SEIS SOBRE FANTASMAS
Samuel Silva
 

OPUS 1 - Não fique assim, nada pode ser tão ruim. Nem a morte, pelo que dizem tantos santos, profetas e deuses. Pense: Valhalla, Éden, Nosso Lar, Olimpo ou Nirvana, que não é bem um lugar, é mais um estado, mas, enfim... Não, definitivamente nem a morte é tão ruim.

OPUS 2 - Te vejo andando, diáfana em vestes brancas, transparentes, clichê da suavidade, paradigma da leveza. Vejo tua pele branca, tão macia como pão-de-ló. Vejo teu rosto fino emoldurado pelos teus longos e revoltos cabelos negros, como se sempre ventasse.

OPUS 3 - Os olhos dela escancararam diante da visão estonteante que vinha luminosa rompendo a escuridão do quarto, irradiando-se e construindo imensa sombra na parede oposta e parte do teto, um masai inconsútil.

OPUS 4 - Vim, você tanto insistiu em teu arrependimento, que vim ver com meus próprios olhos, estes que a terra está a comer, a tua culpa sofrida, judaico-cristã, culpa pelo erro no homicídio, mas não de ter matado.

OPUS 5 - Eu não sei se você acredita em fantasmas, mas eu acredito. Eu acredito porque não só já vi fantasmas com convivo com eles, normalmente bem. São muitos e muitos estes que conheço, indo e vindo, ora na minha casa, hora em hotéis durante minhas viagens, até em aeroportos e aviões já os encontrei.

OPUS 6 - Olhei a casa mais uma vez, a penúltima, como se diz, contando que a reencontraria em um futuro, próximo ou remoto, nesta vida ou além. Sim, certamente, quando me tornasse apenas alma, seria do tipo apenas, por tanto que errei - e ainda errarei, minha cota ainda não se completou - nesta vida insossa que em que Deus e meus pais, em conluio de poucos auspícios, me meteram.

 
 

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