FANTASMAS - OPUS 2
Samuel Silva
Complicado, isso.
Te vejo andando, diáfana em vestes brancas, transparentes, clichê da suavidade, paradigma da leveza. Vejo tua pele branca, tão macia como pão-de-ló. Vejo teu rosto fino emoldurado pelos teus longos e revoltos cabelos negros, como se sempre ventasse.
Vejo teus seios, um momento pelo decote em "V" de seu vestido, outra vez pela cava das mangas e outras, poucas , apenas uma nesga quando você vira de costas neste vestido quase sem panos atrás. Seios que quero beijar quase como quem saboreia
ambrósia, és uma ganimedes mulher.
Sinto sua chegada silenciosa, como se flutuasse milímetros acima do chão, estes teus
pezinhos descalços sempre tão limpos, tão delicados, que quero ter em minhas mãos para pô-los entre meus pés e depois meus pés entre os seus.
Tua boca exangue de paixão, o sangue fugido para deus-sabe-onde, mas que ainda assim é boca sensual, carnuda, boca que beijaria por toda a eternidade, apenas deixando de beijar para ser beijado.
Teu pescoço frágil, torneado, esculpido molde de galatéia, sem pintas ou manchas, um pescoço altivo, que nasce dos ombros em harmonia de formas.
Tua barriga saliente , pequena, arredondada, com uma ou duas dobrinhas arredondadas, sem rugas musculares, sem essa rigidez de fitness que se vê tanto por aí agora.
Teu sexo sem pêlos, uma outra boca carnuda me beijando de lado, me beijando por onde falo mais forte, mais eu, onde encerro meus medos, meu futuro aqui na terra, onde guardo minha chance de imortalidade e onde bebo insaciável, sedento, teu néctar, ganimedes mulher.
Em você, por você, me toco, me punheto.
Em você, por você, vivo e peco.
Em você, por você, me quero mortalmente vivo.
Complicado isso, mas comum: alguns perseguem a mulher ideal, a cara-metade, o amor eterno encarnado, que sequer existiu ou existe, a utopia em um ser.
Eu não, eu tenho meu amor enlutado de branco, minha caralma, minha lembrança assaltada.
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