Nenhum
dia é como o outro dia.
Nenhum instante é como o que acabou de se viver.
Nenhuma inspiração desafia a transpiração
de uma noite quente.
Nenhuma poesia flameja à noite como as línguas-de-fogo de
uma fogueira.
Nenhuma beira de rio é tão musical como as beiradas de rios
em noite de Lua Cheia.
Nenhuma palavra me escapa em meio ao turbilhão desses dias...
Preciso parar!...
Porque nenhuma razão me convence de que há alguma razão.
Nenhuma explicação explicaria minha sutil teimosia.
Esses dias iguais e sui gêneris!..
Preciso caminhar!..
Porque nenhuma estrada pode me levar onde nem eu sei!
É pura pretensão, apenas!"
Porque nenhuma estrela se deixa mostrar nesta noite nublada.
Então...
Preciso imaginar!..
Imaginar que nenhuma dessas estrelas comuns é a minha preferida.
Nenhuma delas é o meu diamante flamejante!
Preciso sonhar!
Porque nenhuma nuvem impede meu vôo!
E assim, me desloco nas asas da ansiedade e vou ver outras estrelas.
Agora sim; a poesia carimba meu passaporte e sigo para a galáxia
vizinha!
Preciso silenciar!..
Só para ouvir o pulsar do silêncio noite adentro.
Enquanto nos riachos, as águas compõem, ao pentear as pedras,
a canção mais sublime.
Preciso parar de novo!
Como neste instante de pura provocação!
Não me permitia escrever, nem imaginar, nem expressar coisa alguma.
Porque apenas sentia a corredeira desfilar...
Preciso dizer então...
Que enquanto navegas por teus regatos, eu fico aqui, atirando pedrinhas
na água.
E os círculos se propagam paulatinamente levando em códigos
e cifras uma mensagem que só nós sabemos decifrar!
Preciso dizer mais?
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