12.
NADA DE ARAME
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Edison
Veiga
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A cidade assim dá de comer aos pobres, enquanto os ricos passam fome em seus castelos rodeados por macacos endiabrados. Agilberto, um reles catador de lixo, entretém-se colecionando belos nadas de arame, um mais bonito que o outro, um mais perfeito que nenhum. É ele quem os constrói. - Que tanto faz? - Nada. - Isso que não estou vendo não pode ser nada. - Mas é. - Você vende? - Não, só vejo. Se vendesse precisaria pôr à venda. - E por que não põe? - Porque se colocasse, não mais veria. - Como? - A venda me taparia os dois olhos humanos, os dois olhos de vidro e os dois olhos de pensamento. - Você só tem dois olhos de pensamento? - Só. - Dizem que a mosca tem quatro mil pares de olhos... - Mentira. - Não é não. Eu li numa revista. - Mais mentira ainda. - Talvez... - E depois, você leu errado. O que ela tem é quatro mil facetas em cada olho. - Descarada! - Descarada. - Para olhar melhor, minha netinha. Para olhar melhor... E crau! - Ahn? - Pior mesmo sou eu, que tenho quatro mil moscas em cada olho. - Cada um, cada um. - Cada quatro mil, cada quatro mil, cada quatro mil... - Cada um tem o olhar que merece. - Matei uma! Agilberto continuou construindo nadas de arame. |
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