10.
DIÁLOGO ACONTECIDO DENTRO DE MEU SAPATO
|
|
Edison
Veiga
|
|
- Vamos brincar de pedras? - Como se faz? Com formigas caminhando sobre? Com cócegas no limo nascente? - Mas a pedra pode ficar submersa em um aquário de neons. Aí nascerão algas. - E terá um cascudo a se esfregar, sugar o verde, viver? - Talvez. (...) - Não gostei dessa de brincar de pedras. - Mas foi você quem sugeriu. - Sim. - E por que não? - Pela frieza. Pela rigidez. Pelo cadáver que sinto em você-sendo-pedra. - Como cadáver se nunca houve vida? - Pela dureza. Pela falta de expressão. - Como a vida? - Sim. Mas é preciso vivê-la, apesar dos dissabores. Só assim a vida finge que vale a pena. - E a pedra? Chora? - A pedra serve para tapar o túmulo. - Feito lápide? - Com inscrição e tudo. - Aqui jaz Fulano de Tal? - Aqui jaz Fulano de Tal. E a beleza pétrea está justamente na identidade do Fulano de Tal, que pode ser eu ou você. - Vamos brincar de pedras? - Ganhei. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|