Atualização 184 - Minicontos de natal
BIOGRAFIA
O PAPAI NOEL NEGRO
Pedro Brasil Jr.

A travessia de sua vida havia chegado a um entroncamento confuso. Almejava uma vida melhor e sonhava com a tranquilidade há muito perdida. Podia desejar muitas coisas materiais, mas bastava naquele momento nada além do que uma palavra, uma frase, uma mensagem que pudesse vir de encontro a um determinado código impresso em seu interior e até ali indecifrável.

Caminhava pelas ruas entre a multidão à procura de alguma coisa que não tinha certeza do que se tratava. Poderia ser um novo amor ou de repente, uma dessas oportunidades onde poderia ganhar muito dinheiro e transformar seus dias. Mas ele sentia que era algo diferente, muito especial.

Naquele movimento de pessoas, levadas pela euforia da aproximação do Natal ele seguia pelas ruas observando a decoração, as pessoas com seus pacotes e as crianças palpitando apenas e tão somente expectativas. Essa era a palavra mágica: expectativa !

De repente, deparou com uma multidão em torno de um Papai Noel e ficou olhando de longe na tentativa de entender a ânsia daquelas pessoas. Num instante, foi pego de surpresa quando aquele Papai Noel deixou a multidão e veio em sua direção. A surpresa foi dupla, porque o homem em suas vestes vermelhas era um negro, com sorriso largo entre a invejável brancura de seus dentes e que carregava uma bandeja cheia de pequenos papéis enrolados e presos por fitas coloridas. O Papai Noel olhou fundo nos seus olhos e pediu que apanhasse um daqueles papéis. Lhe desejou um Feliz Natal e muita Paz e complementou desejando que as palavras impressas naquele papel lhe pudessem orientar os passos como a estrela brilhante que um dia orientou os Reis Magos. E depois mergulhou em meio à multidão.

Calmamente ele desatou a fita, desenrolou o papel e pode ler: "Senhor! Dá-me serenidade para aceitar tudo aquilo que não pode e não deve ser mudado. Dá-me força para mudar tudo o que pode e deve ser mudado. Mas, acima de tudo, dá-me sabedoria para distinguir uma coisa da outra."

Ficou ali por mais um tempo enquanto lia e relia a mensagem. Quando se deu conta, a multidão e o Papai Noel haviam partido e assim, descobriu-se novamente parte integrante de um mundo conturbado mas que não pára nunca. Descobriu seu coração palpitando e sentiu num repente todas as suas vontades, todas as suas idéias e todos os seus sentimentos ocuparem novamente o lugar que sempre lhes foi de direito.

Sentia no peito agora, uma brisa leve de felicidade e ao mesmo tempo, sentia também adentrar em seu coração, o autêntico e incomparável espírito do Natal.

Foi embora divagando sobre a própria existência e sabia agora que abaixo do céu, tudo é possível, até mesmo um Papai Noel negro, sorridente e com toda certeza, portador de uma alma tão clara de onde irradiava muita luz. Aquela luz admirável, que o deixava cercado por tantas almas sedentas por palavras profundas e verdadeiras. Agora sim; o Natal começava a contagiar todas as gentes...

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