O
PAPAI NOEL NEGRO
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Pedro
Brasil Jr.
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A travessia de sua vida havia chegado a um entroncamento confuso. Almejava
uma vida melhor e sonhava com a tranquilidade há muito perdida.
Podia desejar muitas coisas materiais, mas bastava naquele momento nada
além do que uma palavra, uma frase, uma mensagem que pudesse vir
de encontro a um determinado código impresso em seu interior e
até ali indecifrável. Caminhava pelas ruas entre a multidão à procura de alguma coisa que não tinha certeza do que se tratava. Poderia ser um novo amor ou de repente, uma dessas oportunidades onde poderia ganhar muito dinheiro e transformar seus dias. Mas ele sentia que era algo diferente, muito especial. Naquele
movimento de pessoas, levadas pela euforia da aproximação
do Natal ele seguia pelas ruas observando a decoração, as
pessoas com seus pacotes e as crianças palpitando apenas e tão
somente expectativas. Essa era a palavra mágica: expectativa ! De
repente, deparou com uma multidão em torno de um Papai Noel e ficou
olhando de longe na tentativa de entender a ânsia daquelas pessoas.
Num instante, foi pego de surpresa quando aquele Papai Noel deixou a multidão
e veio em sua direção. A surpresa foi dupla, porque o homem
em suas vestes vermelhas era um negro, com sorriso largo entre a invejável
brancura de seus dentes e que carregava uma bandeja cheia de pequenos
papéis enrolados e presos por fitas coloridas. O Papai Noel olhou
fundo nos seus olhos e pediu que apanhasse um daqueles papéis.
Lhe desejou um Feliz Natal e muita Paz e complementou desejando que as
palavras impressas naquele papel lhe pudessem orientar os passos como
a estrela brilhante que um dia orientou os Reis Magos. E depois mergulhou
em meio à multidão. Calmamente
ele desatou a fita, desenrolou o papel e pode ler: "Senhor! Dá-me
serenidade para aceitar tudo aquilo que não pode e não deve
ser mudado. Dá-me força para mudar tudo o que pode e deve
ser mudado. Mas, acima de tudo, dá-me sabedoria para distinguir
uma coisa da outra." Ficou
ali por mais um tempo enquanto lia e relia a mensagem. Quando se deu conta,
a multidão e o Papai Noel haviam partido e assim, descobriu-se
novamente parte integrante de um mundo conturbado mas que não pára
nunca. Descobriu seu coração palpitando e sentiu num repente
todas as suas vontades, todas as suas idéias e todos os seus sentimentos
ocuparem novamente o lugar que sempre lhes foi de direito. Sentia
no peito agora, uma brisa leve de felicidade e ao mesmo tempo, sentia
também adentrar em seu coração, o autêntico
e incomparável espírito do Natal. Foi embora divagando sobre a própria existência e sabia agora que abaixo do céu, tudo é possível, até mesmo um Papai Noel negro, sorridente e com toda certeza, portador de uma alma tão clara de onde irradiava muita luz. Aquela luz admirável, que o deixava cercado por tantas almas sedentas por palavras profundas e verdadeiras. Agora sim; o Natal começava a contagiar todas as gentes... |
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