Cadê você, que esqueceu sobre minha cama esse cachecol azul que nem combina com minha camisola? Olho embaixo dos travesseiros e procuro o cappuccino que você me traz todas as manhãs, acompanhado de um beijo de açúcar mascavo para não atrapalhar minha dieta.

Viro-me para a porta do quarto e já consigo imaginar você ali, a me olhar demoradamente, como uma criança que espera. Ah, aquela sua mania de ligar a tevê e o aparelho de som ao mesmo tempo, na tentativa de reconhecer algum som familiar em algum lugar e de repente sentir-se em casa novamente... Seu jeito de falar que me ama, tão desajeitado que me faz rir. Você então se zanga e a única forma de acalmá-lo é colar seu corpo ao meu e mostrar que minha única parada está bem ali, na confusão de braços e pernas do colchão.

E caminhando ainda vejo seus vestígios pela casa. As meias jogadas pela sala, a louça ainda por lavar, a janela aberta para uma nuvem que se aproxima. Trancar a porta antes de sair? Nunca. E aquele medo de deixar o universo doméstico isolado do coração pela simples volta na fechadura?

Maldito relógio que não me traz logo você.