6.
JURACÉIA E OS COLECIONADORES
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Edison
Veiga
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Taciturno, ele sabia que futuro não existia. Colecionava presentes, então. Que se acumulavam na prateleira toda azulzada de sua casa empoeirecida. - Vai limpar não? - era o gritinho histriônico de sua empregada, Juracéia. - Dê graças que eu coleciono presentes. Um dia ainda lhe dou um. - Mas antes, dê um trato nesse banheiro. Está imundo. - O banheiro é onde mora o colecionador de enquantos. Ali não mexo, não. E ficava aquela podredice no recanto do colecionador de enquantos. Que era um sujeito bom, apesar de desesperançado e doidivanas. Ele sempre não fazia o agora porque expectava o que nem sabia. Por isso, se esquecia de viver-se, vivendo outras coisas. Assim: - Enquanto isso, 213 milhões de terrestres estão transando. - Enquanto aquilo, 1,2 bilhão viram pro lado e dormem. - Enquanto aqueloutro, 532 milhões estão comendo. - Enquanto-me, sequer não me penso. E ficava lá no banheiro imundo. O colecionador de presentes, sem futuro algum, ao menos recebia direitinho as ordens de sua empregada. Recebia. E cumpria quase todas, exceto as que defenestrava para debaixo do tapete. |
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