3.
ABRACADABRA
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Edison
Veiga
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Empilhar duas palavras-valise e depois sair desmontando todas em blemas e pro blemas: - Vá pra lá palavra minha!, que hoje quero escrever com tradições. Dizia a Professora Bárbara do Carmo, ao contemplar O Poema e empilhar nele todos Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora. Mas não conseguia. Perdia-se em semióticas e gozava ensimesmada. Mas não conseguia. Amarelava o céu, o dia, até a noite um pouco. E não conseguia. Professora Bárbara do Carmo era a mesma frustração que sou quando escrevo. Como se as páginas não me pedissem mais letrinhas. E o vazio fizesse jorrar uma coleção de nadas. - De nada. - Pois não? - Disse de nada. - Então pode levar. - Por quê? - Que não. - Sim? - Olha só: a essa altura, a vida não mais permite tropeços. Sinto-me como se já amasse mais antes, como se não fosse o mesmo apaixonado de antes, diante de mim-eu. Porque o em-mim, o umbigo cólico esfacelou-se-me ao simplesmente refletir fatos inenarráveis. - Olhei, só. - Por isso, acho que a seduzo. - Um anzol? - Abracadabrando. - Abra cada bra de cada vez. - Depois abraço? - Não. Abrigue, apenas. - Abrigado. - De nada. Natimorto, O Poema desmontou. Enquanto isso, Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora se aproveitaram, filhos-da-puta, de uma falha na folha e fugiram da página. |
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