Um
tapete amarelo de flores de ipê! Meus passos lentos no cair da tarde... A
primavera anuncia sua chegada, silenciosa... O novo palpita invisível! Qualquer
coisa estranha aparenta uma dúvida cruel. O ar é gélido,
o vento assobia uma canção de outono. Sigo em meus passos divagando
os segredos do tempo. E a Terra segue sua trajetória pela galáxia. Parece-me
tudo tão normal, cheio de sincronismo... Mas aqui, o sol arde na pele
enquanto o frio arrepia a seu modo. Não sei ao certo em qual estação
me encontro. As alterações do clima me provocam cisma. Distante
no horizonte, a serra implacável e firme. Sim! Tudo está normal... O
céu ganha matizes indescritíveis e o sol vai se escondendo por entre
nuvens. Já não sei se esta melancolia de final de tarde ociosa
é uma réstia de outono perdida. E tampouco me cerca a ilusão
de que já é verão tórrido. Observo as aves em algazarra
disputando galhos para passar a noite e em tudo me palpita uma vida voraz. Já
se podem ver flores do campo e em árvores dormentes, verdejantes talos
de surpresas breves. Existe sim uma estação qualquer!... É
provável que o trem da existência esteja mais veloz, por isto passa
em cada uma delas deixando uma mensagem qualquer. E eu sigo em meus passos
lentos por sobre o tapete amarelo dessas flores que há pouco, enfeitavam
o azul do céu. Já cintilam estrelas no firmamento e do outro
lado, a lua dá seus primeiros sinais. A cortina da noite abre-se para
os outros mistérios... E enquanto isto, as estações se
prepararam para receber estas vidas agitadas, implacáveis e desesperadas. Talvez
seja por isto que já sentimos em apenas um dia o reflexo de todas as estações. Porque
temos pressa de chegar não se sabe onde. E quando se chega não
sei onde, se tem pressa de regressar ao ponto de partida. Talvez seja por isto
que os dias nos dão a impressão de estarem mais curtos... Porque
perdemos já faz tempo, o sentido de olhar a vida e o mundo como a mais
simples e profunda poesia. E lá se vão, em meio as últimos
raios desse dia, os sonetos antigos, aqueles que flamejavam a alma e nos permitiam
sentir uma estação de cada vez. E lá se vão os
sonetos nas asas de uma borboleta qualquer... |