1. À GUISA DE
Edison Veiga
 
 

O sol era no céu um ponto amarelo como seu rosto. Dela que não sabia quais mãos haviam adormecido em seus seios ou quais lábios preferia que fossem beijados. Uma cornucópia de sensações, inventava e até sentia, sozinho, em fajuta paz.

Por que a lágrima claudicante? Porque é uma palavra linda. E dentro dela tem a rima. Rima é uma palavra feia. Mas é preciso dela para formar lágrima, como a cura está para a loucura. Não. Não? Para formar lágrima basta uma pitada de tristeza, ou emoção. E a loucura? Basta ser jovem.

O sol se punha, arroxeava o céu, como sua face falsa tímida. Tinha um ritmo próprio, dançava sem dó, engatava marcha-ré, mi-nguava fá-cil e, sol que era, lá depois virava si-lêncio. Um horizonte como uma cama a deitarem-se, deitarmo-nos, deixar. Quer entrar no livro? Sê-lo em minha escrita? Derrame-se, então, e se transforme em letrinhas bonitas para essas folhas em branco.

Enquanto isso o sol continua sendo um pingente banguela embalado para futuro.

Eram algumas vezes meus personagens estrambóticos. o Traficante de Livros com sua coleção shakespeariana made in China acenava para a contramão no farol vermelho, sozinho como um solo de sax. Do outro lado, o Malabarista Atomentado empunhava sua sombrinha pensando estar armado com um fuzil.