Olhar o mundo através das lentes não estava nos meus planos naquela época em que a vida havia apenas começado.

Eu tinha certa pressa em ver os dias nascerem, só para aproveitar o tempo e me perder em meus sonhos e meus pensamentos que pareciam não ter nexo. Recordo que meu pai um dia apareceu com uma câmera fotográfica e começou a registrar alguns momentos da família. Aquela Kapsa toda preta era apenas uma caixinha de surpresas que, aliás; demoravam um bom tempo até que chegassem impressas no papel. Não foram tantos os registros como deveriam ter sido, no entanto meu pai tinha muitas noções a respeito da importância de coisas que, para a maioria, não tinham lá tanta importância assim. De qualquer forma, aqueles momentos esporádicos em que a câmera surgia registraram em meu âmago algo que anos mais tarde viria a se tornar uma paixão: a fotografia!

Jamais, enquanto meu viveu, tive a chance de lidar com aquela Kapsa que preservo comigo até hoje como um passaporte que me permite, às vezes, viajar de volta no tempo. De todas as fotos que ele fez com ela, algumas ganharam maior sentido com o passar dos anos e com as pitadas de saudade que invariavelmente a gente sente quando se depara com aqueles registros de tempos que não voltam mais.

Existe uma foto em que a família está plenamente composta e quando a observo me vejo perdido pelos trilhos da compreensão da vida afinal; a gente vai viajando pelo tempo enquanto paisagens, coisas e pessoas vão simplesmente desaparecendo sem que deixem suas marcas. Aquela foto tem, dentro de sua expressão tão simples, um significado todo especial e olhando atentamente com o coração, ela mesma tem o poder de dizer que "nós sempre vamos estar aqui" porque apesar das mutações que nos cerca, a fotografia preserva um instante que se eterniza no papel, na mente e no coração.
Não sei precisar aqui, das tantas fotos que já fiz, se existe uma que eu possa considerar a mais bonita ou mais precisa nos ajustes da câmera. Todas são fragmentos de momentos que se foram. Os filhos pequenos que se tornaram adultos, os cachorros de estimação que já cumpriram sua missão, os gatos ariscos que apareceram no telhado, os pássaros que me permitiram chegar tão perto entre tantos outros momentos que trouxeram alegria ao meu viver.

Então, quando observo as fotografias em que às pessoas que amo estão presentes, tenho sempre a plena certeza de que nós, aconteça o que acontecer, sempre vamos estar aqui, porque a fotografia, em sendo arte, nos aponta a beleza; em sendo registro do tempo, nos leva a se olhar no espelho e revelar nossas rugas; em sendo uma ciência, nos prova que é possível, além de registrar no papel nossas imagens, registrar também a energia de nossas auras e indiscutivelmente, registrar o quanto éramos felizes sem que tivéssemos tanta certeza disso. Mas ao final, vale reviver a própria vida através das fotografias, estejamos ou não bonitos na foto. O que importa mesmo são as emoções vividas que contribuíram para a evolução de nossa alma.

*Dedicado a meu pai, Pedro Brasil que, esteja onde estiver, seja sempre iluminado pela luz divina.