Entrou
naquele mar como quem vai pro túmulo
E deslizou nas brumas com braçadas pálidas
Nadou seu desmantelo pelos ventos úmidos
E castigou a pele com sal e sol áridos
A
sua dor antiga parelha de lâmina
E sua carne em brasa reclamando o fígado
Seus olhos sem sorriso lágrimas em pândegas
Enriquecendo o mar de cloreto de sódio
Naquela
mesma tarde resolveu de súbito
Por fim de uma vez na dor daquele ódio
Rever o seu passado e dizimar os pústulas
Nadar profundamente e encontrar o ânimo
E
mergulhou de vez como quem sabe o líquido
E entregou-se ao mar em apnéia sôfrega
Sorvendo o próprio sopro esbarrou no íntimo
Da imensidão azul extraiu o seu âmago
E
viu no escuro o claro de uma grande síntese
Emergindo das cinzas feito ave fênix
E flutuar com as asas de sua vida nômade
Adquiriu na tez um tom de rosa púrpura
No
firmamento fez um elo grande e sólido
Agradeceu aos céus aquelas brumas límpidas
Que tudo lavam e levam tantos golpes sórdidos
Mas branqueiam no mar que engole os pântanos...
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