LÁ, DE ONDE EU VIM UM DIA...
Pedro Brasil Junior
 
 

Lá de onde eu vim os homens simplesmente vivem!...

Eles sabem o que é viver e que mistérios envolvem essa dádiva.

Lá, de onde eu vim, o dia e a noite são dois grandes e perigosos extremos.

Lá, o dia é tórrido e por entre as dunas, os homens enxergam seus próprios sonhos... acordados!!!

Miragens por toda parte! Miragens que se incorporam à vida e que ensinam a arte da lucidez.

Lá, de onde eu vim, os homens caminham sempre em busca da maior preciosidade: a água!

Cristalina nos esporádicos oásis, ela é o objetivo a cada jornada, em meio ao escaldante deserto em lombo de camelos.

Lá, de onde eu vim, olhando-se de longe, não existem os homens, apenas silhuetas, apenas suas sombras, apenas suas pegadas na areia.

Então; a noite descerra suas cortinas e Lá, agora, não mais existe diante da visão.

Lá é apenas Lá... o lugar de onde eu vim!

Agora se abre uma luz! Das fogueiras, onde ao redor eles se reúnem para se aquecer. Na distância perdida na escuridão, não se pode ver nada, não há como adivinhar coisa alguma.

Lá, de onde eu vim, a noite é um palco onde o vento dá seu espetáculo, sibilando suas canções enquanto as areias bailam e vão apagando as marcas deixadas por eles.

As dunas se transformam em esculturas misteriosas, e na manhã seguinte, não haverá um caminho para trás ou para frente.

Lá, de onde eu vim, o homem é o seu próprio caminho. Porque ele consegue ouvir uma voz que fala ao seu coração e lhe orienta pelo melhor rumo.

Lá, o mundo é o próprio coração e viver de verdade, é saber respeitar todas as forças. Saber preservar todas as fontes, todos os seres vivos, cada grão da areia...

É saber respeitar a própria sombra e saber adquirir o dom da paciência, da espera...

Porque os homens de Lá, de onde eu vim, eles querem alguma coisa além da água. Eles desejam, eles almejam, eles sonham, eles cavalgam, eles escrevem suas histórias naqueles areais que o vento faz bailar. E mesmo que o vento apague suas pegadas, jamais ele apaga suas histórias. Porque

Lá, os homens respeitam os homens, respeitam as forças, respeitam as miragens...

Lá, de onde eu vim, os homens são guerreiros incansáveis, que batalham para superar todos os obstáculos que tentam alterar os seus caminhos.

Eles conseguem ouvir o coração da Terra e enxergar na imensidão azul do céu tudo o que o destino lhes reserva. Por isso entendem todas as leis do deserto e nem assim se importam com a solidão. Sabem que ela é rainha, que impera em toda a imensidão de areia, que bate asas naquele céu limpo e sem fim, que zomba da noite e de todos os seus perigos.

Os homens de Lá se rendem à Grande Voz e ouvem seus conselhos através do coração. Sabem da imensidão do universo e conhecem, à noite, cada estrela que cintila no espaço.

Os homens de Lá, pedem e esperam. Sabem que uma força extraordinária movimenta-se para atender seus apelos. E possuem a certeza de que um dia, estarão diante dos seus sonhos.

Lá, pode ser mesmo um deserto, mas pode ser uma grande estrela ou quem sabe; um grande coração...

Para alguns, no entanto, Lá é apenas um sonho, daqueles que embala a aventura astral nos levando a um mundo perfeito!

Mas os que de Lá partem para outros cantos, levam consigo seus sonhos e estendem as mãos quando é preciso.

Cultuam a sabedoria para ajudar a melhorar o mundo. Estejam onde estiver, ainda que não seja um deserto, prosseguem exercitando a arte da paciência e da espera. Prosseguem entre multidões, ouvindo o coração da Terra e olhando na distância a impecável perfeição do céu deserto, por onde suas mentes viajam na distância e os levam ao ponto de partida.

Lá, está exatamente onde sempre esteve e deverá estar e, ainda que nas noites frias o vento modifique tudo, ele jamais poderá alterar os destinos e nem tampouco a missão dos homens de Lá, espalhados pelo mundo para ver e sentir, entender, avaliar, estender a mão, semear a compreensão, sofrer quando preciso e, acima de tudo, amar e distribuir o amor em todas as suas formas, para que os homens Daqui, um dia possam, quem sabe, serem exatamente iguais aos homens de Lá, de onde eu vim um dia.