BREVE
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Edison
Veiga Junior
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Primeira
tentativa. Saí correndo antes que jogassem as sementes em minha cabeça. Tenho pavor de imaginar uma árvore gigantesca nascendo de mim, sugando meu sangue e condenando-me a ser raiz, para sempre. Ou ter minha pele cheia de hematomas-flores fúcsias. Ou ser jantado por pragas da lavoura ocidental. Ou ao invés de vacina receber altas doses de pesticidas. Ou viver em estado vegetativo o que é pior hipótese. Dos sapatos, bati as terras antes de entrar, de supetão: - Ô de casa! O silêncio, como convite a não entrar. O sábado, em si, sorridente. O sábado sozinho. Eu, solitário. Desassossego porque se eu entrasse depois viria o domingo e a segunda com todas as feiras dos dias úteis eu, inútil. Pálido, entre a escolha. O cérebro é um algoritmo nervoso entre as orelhas. Segunda
tentativa. Não viria, não viveria vegetativo. Antes arrancaria com os dentes vermelhos todos os hematomas de flores fúcsia que surgissem em meu escopo. Disse em meu corpo. Não posso ser raiz, desses que deixam a árvore nascer, crescer e se reproduzir em seu entorno. Não viveria vegetativo. As pragas aos pesticidas. Antes. Morte às hipóteses, basta de hipocondríacos. Para entrar sem bater, sem limpar os pés, sem tapete, sem olá. Rápido, solerte. Um abismo entre a porta e o travesseiro, entre os pés e o lustre, entre o entra e o entre. Terceira
tentativa. Se houvesse nascido vegetal, cana, digamos. Seria amputado de meu pé e morreria. Seria consumido por um carro? Servido a um bêbado? Adoçaria uma xícara de café? Estragaria todos os dentes e mataria teus filhos de cirrose. Todos os três. Porque a morte não perdoa nem os vegetais. Ela leva para as terras todas as almas, assim de supetão, sem bater à porta, sem bater os pés no tapete. É entra, entre, e sai. Saí. |