SEGREDOS
Pedro Brasil Junior
 
 
Um passo de cada vez e meus pés ficaram marcados na areia...
Marcados para uma pequena eternidade!
Logo, as ondas viriam apagar minhas marcas, mas deixariam em minha mente, para sempre, aqueles instantes mágicos.
Uma chuva fina empurrada pelo vento apalpava meu rosto e me fazia caminhar em câmera lenta...
Havia um vazio imenso no cenário da praia então deserta!...
E eu seguia em meus passos lentos como um estranho numa terra ainda mais estranha.
Apenas o mar, o céu, o vento e a chuva é que dominavam a paisagem por onde eu seguia minha solitária jornada.
Para onde eu deveria ir? O que eu estava fazendo ali enquanto outras pessoas já haviam se recolhido por causa da chuva?
Apenas meus passos e minha necessidade de caminhar livre, alheio a todas as coisas do mundo.
Naquele instante, o mundo era só meu, sem nenhum egoísmo!
Uma sensação de liberdade por uma ilha imaginária, um pedaço de mundo perfeito...
Talvez não fosse a melhor maneira de se buscar interiormente, mas era então, a melhor ocasião para um desses encontros que só a imaginação permite.
Mas era de fato real!
Enquanto eu seguia minha caminhada encarando a força do vento e da chuva, as pequenas ondas deslizavam pela areia como se fosse um balé da natureza.
O vento secava a areia molhada em sua superfície e empurrava os pequeninos grãos numa espantosa velocidade. Começava a formar uma trilha de areia solta no ar, porém rente ao solo. Eu olhava aqueles fragmentos em alta velocidade a passarem do meu lado, formando um caminho infinito, como se fosse uma única nuvem a demarcar uma estranha passagem.
Senti-me caminhando no céu e, portanto, eu podia voar!
Não há como descrever sensação tão pura e tão simples.
Logo, duas gaivotas passaram voando ao meu lado, poucos metros da areia e, contra o vento, me pareciam estar paradas no ar.
À medida que eu forçava meus passos, elas batiam paulatinamente suas asas e seguiam à minha frente, poucos metros, como se fossem dois guias numa terra desconhecida.
Mas eu conhecia o lugar, sabia dos seus segredos e já não era assim, um desses aventureiros desavisados.
As gaivotas eram velhas conhecidas e tinham cada uma delas, algo a contar, alguma coisa a mostrar...
O caminho de areia solta ganhava volume enquanto eu, encharcado, insistia em minhas passadas sem um destino certo.
Jaysha e Atlantis seguiam à minha frente cautelosos, trocando experiências de mundos paralelos e me levando a repensar as passagens da vida e, sobretudo todas as emoções mais fortes já vividas e superadas.
Havia segredos!
Delas, as gaivotas companheiras – a satisfação peculiar de planar por sobre as ondas e de dar um toque todo especial à paisagem e de carregarem em seus vôos o poder de uma comunicação além-terra.
E o meu segredo, era o de ter descoberto a possibilidade de adentrar em um mundo novo que continua lá, no mesmo lugar, exposto a todos os que se deixaram encantar pelos movimentos suaves da natureza e assim, descobrirem que o grande segredo da vida é fazer parte e preservar o mundo, onde nós, já somos uma espécie de alienígenas empenhados em devastar e por fim à grande criação da divindade.
 
 
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