Aos
21 anos, não é muito comum escrever uma autobiografia.
Faltam cabelos brancos a guardar lembranças e histórias,
faltam rugas onde a vida se inscreve, falta aquela sisudez própria
de quem já levou muitos tropeços.
Semana
passada, uma amiga olhou para mim e disse:
- Edison, o jornalismo nasceu para você!
Exageros à parte, tenho consciência de que todos os fatos
marcantes de minha vida implicam no futuro jornalista que quero ser.
Cresci com a tranqüilidade característica das cidadezinhas
do interior. Em Taquarituba (região sudoeste do estado), jogava
bola na rua, brincava de gude e construía minha fazenda imaginária
com bichinhos de chuchu e batata. Mas o deslumbramento vinha à
noite, quando meu pai me pegava ao colo e abria um verbete ilustrado
da Enciclopédia Barsa. Sem o saber, ele desenvolvia em mim a
fascinação pelo conhecimento e o prazer da leitura.
E foi só aprender a ler para inaugurar o meu vício. Dos
gibis e do Monteiro Lobato aos poemas de Leminski e à filosofia
de Kant, foram anos entre as páginas. No meio do caminho, definia-me
jornalista.
Em casa havia, no quartinho dos fundos, uma Olivetti antiqüíssima.
E eu, aos 12 anos, mesmo com o computador sobre a mesa, achava que para
ser jornalista era preciso máquina de escrever. Aquele charme
romântico. E, idiota, corri pra desenterrar a velharia. Na volta,
escorreguei no tapete e levei um tombo fenomenal: Olivetti e eu sofremos
escoriações leves, mas suficientes para que eu entendesse
que o computador já instalado ao canto da sala era bem mais prático
para minhas primeiras aventuras com as palavras.
Quando tinha 14 anos, participei de um concurso para jovens repórteres,
promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, e fui classificado entre
os 20 melhores. Ao voltar para Taquarituba, com o resultado, consegui
uma vaga no semanário local. Começava a realizar meu sonho.
Da pauta à fotografia, foram reportagens e reportagens. Em jornal
pequeno a gente aprende de tudo, porque acumula funções:
cobra o escanteio, corre pra cabecear e, às vezes, ainda tem
que defender o gol para o time adversário.
Na 16.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no ano
2000, vi meu Enigma deixar de ser só meu. Aquele sentimento de
vai, filho, vai ser livro no mundo. A obra foi lançada.
Continuei me dedicando à literatura, nas horas vagas, o que me
rendeu uma boa quantidade de prêmios e participações
em diversas antologias.
Penso que todo jornalista deve cultivar uma veia leonardesca. Afinal,
mesmo buscando ser especialista em determinado assunto, é fundamental
possuir a visão do todo, acumulando conhecimentos os mais variados
possíveis. Só assim se consegue o cultivo diário
da curiosidade e o desenvolvimento necessário das diferenciadas
pautas. E foi com tal ânimo que fui monitor do Laboratório
de Ciências do colégio, onde aprendi muito de química,
física e biologia. E fiquei em 12.º lugar na Olimpíada
Paulista de Química. E fui medalha de bronze na Olimpíada
Brasileira de Astronomia.
Em 2002, chegou a hora de arrumar minha tralha e sair da casa dos meus
pais. Comecei a cursar Jornalismo, na Universidade Estadual Paulista,
em Bauru (centro-oeste paulista). Sempre entendi que o bom aprendizado
vem de uma mistura do que ocorre dentro com o que ocorre fora da sala
de aula. E, pensando nisso, expandi minhas atuações o
quanto pude. Durante o curso, desenvolvi dois projetos de iniciação
científica, ambos fomentados pelo CNPq. Participei de todos os
congressos, simpósios e seminários que me apareceram.
Desenvolvi mais meu hábito de leitura, chegando a devorar quatro
livros por semana.
Estive no Fórum Social Mundial, em 2003, integrando a equipe
de estudantes que fez a cobertura do evento. Uma experiência inesquecível:
as discussões teóricas importantes, o gigantismo do Fórum,
o ar Woodstock do acampamento e a miscelânea de nações,
bandeiras e ideais.
Em meus quatro anos de Unesp, dois prêmios jornalísticos:
o 2.º lugar no Intercom e o 1.º no Circuito Estado de Jornalismo.
Este me rendeu uma bolsa de pós-graduação (curso
Master em Jornalismo para Editores).
Agora, tendo concluído as aulas da faculdade, mudei-me para São
Paulo. Em busca de meu espaço. Por que quero ser jornalista?
Minha história de vida é a resposta. E não pretendo
que os pontos sejam confundidos com reticências.
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