CAIO, 4! ANOS
Mariazinha Cremasco
 
 

Meu filho mais velho estava com três anos e meu caçula tinha três meses. Eu não pensava mais em ter filhos. Não queria mais. Dois era o suficiente para os tempos atuais. Sem contar o fato de que tínhamos perdido nosso primogênito, doenças congênitas. Não queria mais filhos. Fim. Meu médico recusou-se a fazer a ligadura de trompas por eu ser muito jovem na época (bendito médico). Um dia, recém saída de uma cirurgia renal para extrair um cálculo, faltou-me a menstruação. Deve ser da anestesia, pensei.

- Você está com cara de grávida - disse o ginecologista-obstetra.

- Nem me fale uma coisa dessas - respondi.

Eu estava grávida, sim. Os exames confirmaram. Por exatamente (lembro-me como se fosse hoje) uma hora, fiquei transtornada. Passado esse tempo, olhei-me no espelho e perguntei:

- Vai ou não vai ter esse filho?

- Sim - respondi para mim mesma - Vou.

- Então não reclame mais. Faça dessa notícia uma bênção.

E assim foi. Foi minha melhor gravidez, meu melhor parto.

Você nasceu com música, um médico amigo do seu pai, que coincidentemente encontramos na entrada da maternidade assistiu seu nascimento. Foi lindo. Nasceu grande, forte, bonito. O bebê mais fofo do berçário. Cara de joelho? Não... você nunca teve cara de joelho, filho. Seu pai e eu lhe demos o nome do seu irmão. Caio. Nome do qual você gosta muito, o que me faz muito feliz. Você enche a boca para dizer: CAIO.

Não, eu não pretendia colocar nos seus pequeninos ombros o peso do nome do irmão que se foi. Eu também tinha total certeza de que você não era ele. Que seu irmão não tinha voltado. Apenas eu queria repetir esse nome em voz alta: Caio.

E você foi das melhores coisas que nos poderia acontecer. Sempre alegrou a casa. Chorão e inteligente, esperto, amigo de verdade. Não havia quem não gostasse de você, especialmente os pais dos seus amigos. Muitos vinham busca-lo em casa. Adoravam sua companhia. Pra mim, sempre um meninão. Pensei que a primeira vez que usaria um terno seria na sua formatura. Enganei-me. Antes disso, no primeiro emprego, aparece na minha frente de terno e gravata e lap top na mão. Meu menino velho. Meu Nenê-vovô. E não adianta fazer essa cara, você sabe do que estou falando e o carinho que há nessas palavras.

Eu acho tanta graça quando você, de terno e gravata, chega com a mochila amarela nas costas. Dá uma idéia exata da sua personalidade. Íntegro, responsável, e ao mesmo tempo, criança, menino. Não que o hábito faça o monge, mas eu o conheço bem e posso afirmar com certeza o que você é, meu filho. Gosto e me emociono sempre que sua namorada diz ou escreve sobre encontrar a paz nos seus olhos castanhos. Seus lindos olhos castanhos. Que também me trazem paz quando os sinto serenos. Sim, sentir é sempre mais seguro do que ver.

Por tudo isso, pelas alegrias e pelos sorrisos, pelo bem que você trouxe às nossas vidas, chegando num momento em que eu pensava ter desistido de gerar, é que eu digo com meu coração aberto: Eu te amo, Caio.

FELIZ ANIVERSÁRIO, FILHO!