SEPARAÇÃO
Edison Veiga Junior
 
 

Confirmar se o mar era mesmo aquela distância enorme cansava meus ensimesmados olhos de exatidão e cemitério. Parado na praia, feria-me com o soslaio de pensamentos: sonhar com Deus, correr na chuva, casar, comer uma torta de limão, me perder nas rimas de um poema velho assinado por Leminski. Ler mais.

Gosto. Mas tem sempre uns instantes de dor e sobra. Sombras para me esconder são poucas. Procurei por você todas as noites esta semana, na segunda esmagada num pesadelo, na terça borboleta azul, na quarta um punhal no peito, na quinta solidão. Hoje não sei como vai ser.

- Vamos pegar um cinema?

- Ah... Tá frio, melhor sorrir em casa.

Entre nós dois foi se firmando um continente. Depois, as lágrimas, um oceano. Atlântico. Eu África, você América. Pacífico. Eu uma ilhota a ver navios.