ARESTAS
Pedro Brasil Junior
 
 

Dois passos: é o que basta para irmos dos sonhos aos pesadelos. Quando mergulhei nas cores de um sonho, me perdi numa imensidão azul. E no pano de fundo, à medida em que as cores foram surgindo, formou-se o esplendor do teu ser, com todos os atrativos inerentes a um sonho bom. E assim, fiquei caminhando naquela imensidão azul-desértica até chegar ao oásis onde estavam todas as delicias sugeridas por você. Você, quase um anjo azul, acenando sutilmente pela minha chegada. E eu fui! Sem receios, sem vergonha, sem nada que pudesse impedir minha magistral viagem. Confesso que a chegada e o nosso encontro superaram todas as barreiras da imaginação. Depois...

Bem; depois o sonho se desfez como toda miragem se desfaz numa fração de segundos. E me peguei depois das cores e da tua magia, perdido em meu castelo de ilusões. Os fantasmas zombaram o tempo todo e arrastaram correntes na tentativa infeliz de me assustar. Como ficaria assustado agora, depois dos sustos que levei naquela viagem distante? Fiquei sentado diante de minha mesa, saboreando uma taça de vinho tinto enquanto a noite desfilava lá fora em seu traje de gala. Era eu, agora, um autêntico vampiro solitário, preparando minhas asas para singrar os desconhecidos caminhos que a noite cria nas profundezas da imaginação humana. Quem sabe agora, eu encontre realmente você perdida num desses jardins em que a lua ilumina e faz da sombra dos arbustos, surgir qualquer coisa que os olhos pensam enxergar, mas que nada mais são do que arestas de um pesadelo qualquer.

 
 
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