A BEATA DERRADEIRA
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Lia A. Falcão
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Há quinze anos não iam à missa e o diabo sabia o porquê - se não o sabia, de certeza, desconfiava.
Naquele dia, chegaram para a novena e sentaram-se na última fila
reservada para rezadeiras. A mais nova das duas tirou do bolso um rosário
antigo, um lenço com monograma encardido e um volume pontiagudo,
de discreto tamanho. De um salto, desferiu um golpe certeiro no peito do cônego, usando uma adaga afiada. Acabado o serviço, limpou-se da arma no lenço, guardou-os no bolso e ajoelhou-se para rezar a reza derradeira, muitas vezes ensaiada. Depois disso, levantou-se do genuflexório e caminhou em direção à última beata e acordou-a dizendo: - Vem, mãe! Agora a gente já pode dizer a Deus. |