A
MINHA POESIA
Pedro Brasil Jr
Minha poesia
nasceu como asas de borboleta!
Primeiro, as palavras rastejaram como lagarta insaciável. Depois de uma luta contra intempéries, aquelas palavras uniram-se todas como em um dicionário fechado, resguardando os mistérios da sabedoria plena. Enquanto maceravam em absoluto silêncio naquele estranho casulo, o sol e a lua foram trocando seus postos entre dias e noites. O tempo seguiu cavalgando implacável! O vento e a chuva se encarregaram fielmente de suas missões. E as palavras confusas lá estavam guardadas naquela caixinha rudimentar onde o tipógrafo da vida se incumbia de montar letra a letra o imenso quebra-cabeça. Que surpresas reservavam as palavras? Que essências haveríamos de extrair daquele sono profundo? Divaguei ao longo do tempo a respeito das sutilizas divinas. Havia ali, naquele casulo, um bom tanto do meu ser! As palpitações do meu coração, o meu desejo de pura liberdade, a minha ânsia em busca das cores e uma vontade inexplicável em sentir os magníficos olores das flores silvestres. Mas isto era a minha poesia! A mais simples e a mais completa que já havia escrito em toda a minha vida. Houve um dia de silêncio profundo!... Tão profundo que posso garantir que o tempo parou. Frações de intermináveis segundos onde eu pude ouvir os ruídos de um estranho movimento. Minhas pálpebras fixaram o dicionário-casulo e pude vivenciar suas páginas se abrirem lentamente e de lá, como uma mágica perfeita, minhas palavras-lagartas saíram unidas na mais bela de todas as poesias. Logo, ruflaram suas coloridas asas de transformação e pude ver o majestoso ser que habitava um dos quartos de minha alma. Circundou em vôo todo o meu ser e se foi pela janela para ganhar o mundo e sentir de perto todo o fervor do grande jardim da vida. Daqui fiquei olhando horizonte afora. Agora, tinha certeza de que o mundo todo sentiria breve toda a razão da minha essência. |