AMOR CEGO
Pedro Brasil Jr
Ah! Morcego. Neste cair da noite, invade minha varanda num incansável cirandar. Rufla misteriosamente suas asas e desvia ávidamente das colunas. Você já se tornou um visitante ilustre dessas horas em que, aqui, me perco a divagar sobre a própria existência. Nessas horas em que o coração palpita mais forte e que a solidão me acompanha num drinque tão amargo. Ah! Morcego. Que saberia você sobre as coisas do amor ? De solidão então? Bem; de solidão creio eu, você deve saber bem mais do que eu. Seja em tua caverna ou num pau oco, você resiste a todas as intempéries e ainda provoca medo naqueles que não apreciam tua presença. Mas de medo também entendo...Os medos da nossa vida humana e racional. O medo de dar passos incertos. O medo de amar cegamente e sofrer mais tarde. O medo da solidão implacável.... E você aí, zombando das lâmpadas e se misturando à escuridão. Somos tão estranhos.... Você com esse jeito de rato voador, sorrateiro e cego a voar, emitindo suas ondas e com elas, disputando este teu jogo de sobrevoar e sobreviver. Eu, com esse jeito de macaco-sem-rabo, voando apenas em pensamentos e me deixando corroer pelos ciúmes. Também faço parte de um jogo. O de querer, de desejar e de amar. Ainda que a correspondência seja assim... tão duvisosa. Cego também estou, assim como você. Cego de amor! Amor cego é como roleta russa.Um jogo cruel só para os idiotas! Ah! Morcego....Como sofro aqui pelo Amor cego! Mas saiba que, tão logo o dia clareie nós, com certeza, iremos mergulhar em nossos sonhos. Sim! Porque tenho certeza de que você também sonha afinal, és um mamífero alado, um anjo negro temido, quase inofensível e solitário. Amor cego de Morcego é a noite....Essa amiga dos homens que voam sem ter asas e de você, que tem asas, não é homem mas pode, quem sabe? - se transformar em senhor absoluto daquelas noites assombrosas que nós, homens, criamos para satisfazer o lado obscuro de nossas emoções |