DA
MENOPAUSA À CRISE DA MEIA IDADE
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Bruno
Freitas
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Antigamente,
quando eu ainda sabia da idade de minha mãe, aliás, eu nunca a esquecei,
somente fora proibido de torna-la pública, e que hoje em dia, por mais que
passem os anos, ela não passa dos quarenta, quando as coisas eram bem diferentes.
Ela mesmo estando exaltada e enaltecida de razão, conversava-nos com calma
e tranqüilidade, que o estudo era imprescindível para nossa educação, que
nunca se deveria abrir as portas de geladeiras na casa dos vizinhos, a sempre
dizermos obrigado, bom dia, e boa noite, a tratarmos com educação aos mais
idosos, respeitarmos pai e mãe, e acalmar-nos os ânimos e tranqüilizarmos
de uma vida de peraltices e diabruras. Meu pai, por sua vez, não perdia
a oportunidade de descer-nos os cintos, que carregava por todos os lados,
de gritar conosco por motivo qualquer, de carregar-nos pelas orelhas até
o outro canto da sala, sem motivo algum que nos lembrássemos.
Hoje as coisas parecem ter mudado, meu pai, segue sua sina de infartado, após passar por dois casamentos mal-sucedidos, quatro filhos, sendo o último com mãe diferente da minha, e muitos aborrecimentos decorridos a convivência às vezes não pacífica com suas ex-mulheres, exaltando as conversas pausadas, e passíveis de emoções a marear-lhe os olhos. Enquanto minha mãe altera-se em grosserias de nervosismo, a esbofetear os incautos filhos mais novos, os mais velhos e os do meio, por quaisquer motivos que fossem, sejam as esfervecências adolescentes, as irresponsabilidades dos mais velozes, e a irrelevância com que regem suas vidas sem preocuparem-se com futuro algum. Pois, só lhe faltava as correadas sem destinos, que antigamente eram desferidas por meu pai, por qualquer motivo que fossem, aos que lhe irritassem, que lhe deixassem aos prantos, que lhe fizessem exaltar ar pelos pulmões. Começo a acreditar que a menopausa é para a mulher, como o que a crise da meia idade é para o homem, com conseqüências contrárias e contraditórias em ambos os sexos. Enquanto a crise da meia idade afetou meu pai, tranformando-o num ser mais calmo e tranqüilo, e empreendedor de longas conversas sobre a vida e suas conseqüências futuras, a menopausa afetou minha mãe a ponto de deixa-la louca e insandecida em busca de sangue fresco, dos portadores do sangue de seu mesmo sangue, que já não corre mais pelos rios de sua menstruação. Até agora, ainda não tive notícia do fato relevante, que rege a crise da meia idade, mas que a menopausa, o sei muito bem. Agora, resta-me esperar pela menopausa de minhas futuras ex-mulheres, e que se me for permitido, quero que sejam únicas, e não mais que uma, e que resta-me a esperança de uma branda crise da meia idade, e acredito que virá sem pressa, e sem presságio algum. |