VERDES
SÓIS
- Luiz de Aquino -
Primeiro
me falaram de teus olhos
Eu te sonhei em bronze e sombras
e esperei o amanhecer.
Depois eu te esperei nesta manhã,
plantei meu riso de esperança
na esperança de te ver (chegar).
O
dia, que era sombra na alvorada,
virou claro de alegria
ante o verde desse olhar.
As sombras, que nasceram como dia,
eram só a nostalgia
dessa espera de te ver (chegar).
E
os sóis que me faltavam
na manhã
chegaram dois, verdes, bonitos,
nos teus olhos de hortelã.
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OLHOS VERDES
- Gonçalves Dias -
Eles
verdes são:
E têm por usança
Na cor esperança
E nas obras não.
Camões, Rimas.
São
uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como
duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São
verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São
uns olhos verdes, verdes,
Que pode também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do padro,
Mas verdes da cor do mar.
Mas, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como
se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei
vós, ó meus amigos
Se vos perguntam por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos da cor da esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que, ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei
vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar;
Eram verdes sem esp'rança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que, ai de mim!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!
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MUSA DOS OLHOS VERDES
- Machado de Assis (Falenas) -
Musa
dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do ancião no extremo alento,
E sonho da criança;
Tu que junto do berço o infante cinges
C'os fúlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;
Tu
que fazes pulsar o seio às virgens;
Tu que às mães carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;
Casta
filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio,
Sê minha amante, os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!
Já
cansada de encher lânguidas flores
Com as lágrimas frias,
A noite vê surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.
Asas
batendo à luz que as trevas rompe,
Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silêncios graves.
Dentro
de mim, a noite escura e fria
Melancólica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sê tu a aurora.
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OLHOS VERDES
- Vicente de Carvalho -
Olhos
encantados, olhos cor do mar
Olhos pensativos que fazeis sonhar!
Que
formosas cousas, quantas maravilhas
Em vos vendo sonho, em vos fitando vejo:
Cortes pitorescos de afastadas ilhas
Abanando no ar seus coqueirais em flor,
Solidões tranqüilas feitas para o beijo,
Ninhos verdejantes feitos para o amor...
Olhos
pensativos que falais de amor!
Vem
caindo a noute, vai subindo a lua...
O horizonte, como para recebê-las,
De uma fímbria de ouro todo se debrua;
Afla a brisa, cheia de ternura ousada,
Esfrolando as ondas, provocando nelas
Brusco arrepios de mulher beijada...
Olhos
tentadores da mulher amada!
Uma
vela branca, toda alvor, se afasta
Balançando na oda, palpitando ao vento;
Ei-la que mergulha pela noute vasta,
Pela vasta noute feita de luar;
Ei-la que mergulha pelo firmamento
Desdobrado ao longe nos confins do mar...
Olhos
cismadores que fazeis cismar!
Branca
vela errante, branca vela errante,
Como a noite é clara! como o céu é lindo!
Leva-me contigo pelo mar... Adiante!
Leva-me contigo até mais longe, a essa
Fímbria do horizonte onde te vais sumindo
E onde acaba o mar e de onde o céu começa...
Olhos
abençoados, cheios de promessa!
Olhos
pensativos que fazeis sonhar,
Olhos cor do mar!
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VERDES SÃO OS CAMPOS
- Luís Vaz de Camões -
Verdes
são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo,
que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados
que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
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OS TEUS OLHOS SÃO TÃO VERDES
- (fado de Coimbra) Fernando Carvalho -
Os
teus olhos são tão verdes
São duas Ave-Marias
Um
Rosário de amarguras
Que eu rezo todos os dias
Os
teus olhos não são teus
Desde o dia em que te vi
Os
teus olhos são os meus
Que os meus cegaram por ti.
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