CURSO DE NOIVOS: UMA TORTURA OBRIGATÓRIA
COMO PASSEI A DETESTAR IR À MISSA
Bruno Freitas
 
 
Como se não bastassem todos os preparativos para a cerimônia do casamento, os noivos ainda são obrigados a participarem de um curso obrigatório, e sem este, é impossível contrair matrimônio através do religioso. O salão estava cheio, casais sentados em meio círculo, esperando alguma coisa acontecer. Haviam muitos casais assustados, outros risonhos, e os irritados. Na recepção, eles receberam crachás com seus nomes, assinaram o livro de presença, juraram amor eterno, aceitaram suas responsabilidades, deram-se às mãos e colocaram as alianças, beijando-se com ternura.

Matrimônio significa zelo de mãe, e zelar pelo matrimônio, ou fazei tudo que meu filho disser, de acordo as palavras de santa Maria mãe de Deus - rogai por nós pecadores - quando presenciou o primeiro milagre, o da multiplicação do vinho. Ainda bem que não existiam automóveis naquela época, pois, imagine só: Jesus Cristo incitando a venda de bebidas alcoólicas, e inaugurando uma distribuidora de bebidas no céu.

O Nazareno pode ser até bem legal, massa, é o ouro véio... O que incomoda mesmo é essa multidão insana que o segue, digo a igreja em si, até mesmo pelo fato de apenas alguns poucos padres, escaparem da pieguice e da ignorância espontânea. O papa não é nada pop, e os Beatles foram realmente mais famosos que Jesus Cristo.

O problema está no discurso ultrapassado, de que o dinheiro nada compra, e não traz felicidade, de que os bens materiais nada importam, e o importante é boa saúde da alma e a paz com Deus, de que a dureza da vida diminui, se você tem Jesus no coração.

Pregação como forma de sabotagem intelectual, e não digo isso, em analogia à capacidade intelectual dos Sumo-Pontifices, seus arcebispos, cardeais, e freis, mas na forma de alienação de seus sermões. Atestando ao povo, sua pomposa lobotomia, em forma de histeria coletiva, naquele velho discurso de que a felicidade não se compra. O dinheiro compra o que traz felicidade, os bens materiais são a causa dos seqüestros, assaltos, assassinatos, e para a boa saúde é preciso bons planos de saúde e uma conta na drogaria, mas que não são nada se você tem Jesus no coração...

"Com Cristo, por Cristo e Com Cristo! Osana Bin Laden nas alturas! Ele está no meio de nós. Palavra da salvação... Amém".

De repente, um rapaz alto e robusto, seguido por uma dama esquálida, e por um baixinho carregando um violão de seu tamanho e forma, entram no salão, como fossem apresentadores de um programa de auditório. "Boa noite companheiros de trabalho! Eu sou o Junior, essa é a Cleide, aquele é o Adilson. Vamos estar aqui com vocês nesses dias, e vocês vão enjoar de ver nossa cara, de ouvir nossas vozes, escutar nossas canções, nossos conselhos, recomendações, além é claro de passar horas de tortura assistindo palestras sobre os deveres e os direitos do matrimônio".

- Porra! De onde vem toda essa alegria!

- Fica quieto.

"Depois de cantarmos e dançarmos hinos religiosos de uma nota só, vamos dar as mãos e rezar para abençoar o matrimônio. Vamos fazer um círculo e vamos nos apresentar uns aos outros, vamos dizer o que sentimos sobre nossa alma gêmea, usando apenas uma palavra".

- Amor! Felicidade! Amiga! Alegria! Bondade! Minha vida! Meu tudo! Meu tudo também! Meu amor! ... O mesmo... Minha alma...

- Minha torre gêmea! Meu terroristazinho!

"Depois de muito discutirmos sobre o aborto, sobre as responsabilidades paternas e maternas, sobre os deveres conjugais, sobre a tolerância mútua e sobre as dificuldades financeiras, sexuais...".

- Só podem estar me achando com cara de palhaço!

- Fica quieto.

"Depois vamos ouvir nosso sacerdote discursar sobre o ato sexual, e de que todo esperma é sagrado... E que na época do namoro é tudo mil maravilhas e agora no matrimônio, vocês terão de conviver também com seus defeitos. O matrimônio é na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, portanto queremos ouvir de cada casal, apenas uma coisa que gostariam de mudar no seu companheiro?".

- Não quero mudar nada...

- Eu também não...

- Que fosse mais calma...

- Que deixasse de pirraça...

- Que fosse compreensiva...

- Mais responsável...

- Que fosse feliz!

- Menos otimista?

... E todas as respostas mais óbvias, mas que necessitavam de toda a capacidade cerebral dos participantes, ou não. Uma prova concreta do sucesso da experiência realizada pelo catolicismo, através dos sermões alienatórios e das práticas inquisitórias da lobotomia episcopal, ou não. De que outros modos poderiam responder esta questão, sem o uso do sarcasmo, ou da ironia, ou até de humor negro?... Ou não. Tudo isso, resultado de uma lobotomia bem sucedida, ou não.

- Eu queria que ele mudasse de sexo!

- E eu, que ela parasse de me bater!

 
 
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