ZAP ZAP ZUM
Bruno Freitas
 
 
Os canais passavam com tanta velocidade que era impossível visualizar qualquer imagem naquela correria desatada. Era o canal de esportes atropelando-se por cima das variedades, dos desenhos animados, dos filmes legendados, dos programas de auditório, e dos noticiários, documentários sobre animais, ciência, paleontologia, arqueologia, catástrofes naturais, bastidores cinematográficos, comerciais super-produzidos, menos dos reclames da senhora companheira ao lado. Bem, digamos assim, ninguém ao lado fica satisfeito com a saraivada de canais televisivos. A zapeada, como alguns dizem, nunca é do jeito que queríamos, e sempre gostaríamos de ter o controle remoto em próprio poder.

A arte da zapeada é dificilmente aperfeiçoada, e raramente controlada pelo indivíduo. Os canais a cabo são divisores de águas em matéria de zapeada, pois anteriormente, era quase impossível zapear pelos canais abertos, pois, facilmente você retornava à posição inicial nos botões do controle remoto, enquanto com os canais a cabo você demora mais tempo zapeando por inúmeros canais. O único problema verdadeiro é a matemática extremamente necessária, por parte de seu usuário. Imagine você ter que encontrar um canal no meio de tantos outros, e ter de calcular a distância do canal desejado, e seu acesso mais rápido, seja pra frente ou pra trás nos botões do controle remoto. Você ainda pode-se dar ao luxo de atualizar uma lista de favoritos, coisa impraticável nos canais abertos, que já são tão poucos. Fico imaginando minha vida de moleque, viciado em televisão que era, nos dias de hoje. "A televisão me deixou com gripe pro resto da vida, e me deixou burro muito burro demais". As horas desperdiçadas em frente ao televisor, são horas inúteis, o que não significa que não devam ser apreciadas.

A televisão torna-se hipnótica, desvirtuando a concentração do indivíduo. Existem pessoas que perdem a noção da realidade e seguem desembestadas pelo mundo das emissoras do sinal televisivo, e parte para o universo paralelo das estrelas da tevê - o país da Xuxa e os sete duendes mentais... Felizmente existe os controle remoto, que nos livra pra longe da possibilidade da rainha dos baixinhos, do Rei do Domingão, do domingo Viva a Noite, "das cercas embandeiradas, que separam quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta sombra sonora do disco voador".

O controle remoto é a maior invenção do século... Perdendo somente par a privada... Não consigo imaginar uma vida sem controle remoto. Desde pequenos, já aprendemos a lidar com artefatos tecnológicos pra melhorarem nosso meio de vida, de modo que no dia em que o holocausto nuclear vier... Seremos todos pegos de surpresa pela incapacidade do ser humano em acender fogo sem um fósforo. Enquanto isso não acontece, vou zapeando os canais da telinha. "Euclidêêê! Fala pra mãe!"

 
 
fale com o autor