EM
TEMPOS DE APAGÃO
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Beto
Muniz
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Quem
viu uma reportagem na TV essa semana, sobre o resgate de uma mulher presa
entre as ferragens do carro que tinha batido contra uma caçamba
de lixo numa rua escura no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo?
Pleno coração da cidade e a rua na penumbra. Coitada da moça, nem teve tempo de desviar quando percebeu o obstáculo após a dobra da esquina. Culpa do apagão que deveria cortar vinte por cento da iluminação pública, mas terminou cortando oitenta por cento. Em tempos de apagão, cada fiapo de luz vale ouro. Se permanecer essa situação de caos, temo pelas falências e prejuízos pós apagão. A mulher da reportagem sofreu leves escoriações e passa bem, ela é minha amiga e fui visitá-la. O carro ficou todo estropiado. Penso que a franquia do seguro vai doer mais que as escoriações. Se não bastasse essa despesa extra pesando no bolso, ela também vai pagar táxi por tempo indeterminado e sobretaxa na conta de luz. É certo que ela tem economizado, mesmo após o governo ter autorizado um aumento no valor consumido, mas e quem sempre economizou, como eu, vai tirar de onde os vinte por cento de redução? Não tem como! Eu sempre economizei, antes mesmo da febre por lâmpadas fluorescente eu já as usava para gastar menos com iluminação. Agora tenho que considerar essa sobretaxa pesando no meu orçamento. Temo em breve ter que financiar o pagamento da conta de luz. Idéia boa para alguma instituição financeira: "Gaste agora e pague em vinte e quatro prestações". Já imaginou? Um sistema financeiro voltado para o pagamento da conta de luz? Quando fui comprar meu apartamento usei o financiamento achando que estava fazendo bom negócio, dividi o pagamento em cento e oitenta parcelas. Hoje, após sessenta parcelas pagas rigorosamente em dia, percebo que as contas foram se enredando, complicando-se por misteriosos labirintos de juros sobre juros, embolando o meio-de-campo de tal maneira, que eu já paguei mais que o valor da dívida e ainda devo o dobro do valor financiado. Com a conta de luz já está acontecendo algo parecido, eu gastei um valor, tenho que pagar o dobro e ainda vou ficar no escuro mesmo pagando a dívida em dia. Pior é meu vizinho! Ele economizou mais que no mês passado e vai pagar um valor maior por conta do aumento de tarifa. Um absurdo! Estamos pagando pela incompetência dos homens que elegemos. Nessas horas sinto saudades das promessas do Maluf durante suas campanhas. Ele sempre tem solução para os problemas sociais. De imediato! Aposto que o Dr. Paulo já está arquitetando planos de governo com benefícios e descontos para os usuários que quiserem montar uma mini-usina hidrelétrica na torneira de casa. "Projeto Cingapura Iluminado", mais uma obra de Maluf. Enquanto isso o FHC, sentadão na sua poltrona de presidente, está pensando em roubar essa idéia do Maluf, esquecendo que quando todo cidadão estiver feliz, cada qual com sua mini-hidrelétrica na pia de casa, será hora de anunciar o "enxugão". A falta de água. Perceberam como eu estou mudando de assunto todo momento, como se estivesse perdido? Não é que falta de assunto para a crônica, aliás, em condições normais o tema "labirinto" rendeu um texto interessante - clique aqui para ler. Este outro texto aqui é só um desabafo... Na verdade estou desanimado e até apático diante do quadro que se formou a minha frente. Talvez seja revolta por não poder fazer nada, de imediato, contra esse governo que estabeleceu regras estúpidas sobre prestação de serviços. Resumindo: Fiquei quatro kilowatts acima da meta. Isso já seria motivo mais que justificado para minha revolta, mas um sujeito ainda tinha que deixar uma caçamba estacionada logo após a dobra da esquina? No escuro? Bem no caminho da amiga que ia patrocinar meu livro? Seria o segundo... Poxa |
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