DISFARCE
DE SANTO
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Helô
Barros
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E aí San Crispim já fez
novena pra mim?
E o santinho ali, esquecido entre as preces e as flores dos devotos, grudado no quadro da parede, duvidando da própria fé. Até que não agüentou mais, desinstalou-se do programa, atachou-se no arquivo de estar enfastiado de receber promessa à toa e desceu do andor com medo que já fosse tarde. Não era ele que iria ficar para sempre entre charolas, andores ou pedestais. Cansado de rever decisões, dormiu como um anjo, aos seus próprios pés. Quando acordou, sem o disfarce da santidade, proclamou um xingamento: Lento, pasmacento, bolorento pela falta de uso. Desamparado, o nosso santinho, não teve coragem de se arrepender. Crispim, depois disto, não rezou ou fez novenas a nenhum santo. Já era muito ser homem e ouvir o próprio coração bater. |
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