Hoje de manhã eu acordei,
mas não abri os olhos, sentia um silêncio de doerem os ossos, que não
ousei mover nem mesmo a cabeça. Foi nesta posição que visitei os lugares
longíquos onde nunca estive, e talvez nem mesmo existam. Sobrevoei as
estepes russas, o deserto chileno, as geleiras nepalenses, até mesmo a
serra gaúcha. Fui de encontro ao meu sono atrasado, e estive a ponto de
alcança-lo, e se não o alcancei, foi por falta de empenho, e não por cansaço.
Mas confesso que cansei de ouvir o que tanto falei, e já disse que não
queria ser lido, pois se escrevo através da falta de conteúdo, é por que
assim o quis. Não foi por influência de ninguém, aliás, destruí todas
minhas influências, e catapultei os autores de minha alma.
Anteontem não quis ler nada, ontem li cabeçalhos estúpidos de um jornal
local de anteontem, pois, hoje nem mesmo abri os olhos. Fechei-me no parque
das minhas ilusões, onde passei despercebido por milhões de expectadores,
leitores, desafetos e afetos. Senti todo o receio de seguir adiante pelas
linhas telefônicas, bandas largas, cabos ópticos e radares eletrônicos.
A ponto de não saber de onde vêm os amigos e inimigos, sabendo que a ferida
viva do meu coração vive sangrando pelas teclas do computador pessoal,
pois, mesmo sem sabe-los, enfrentei-os com a mesma sagacidade de ontem.
Lendo relendo e usando todos os artifícios possíveis para derruba-los,
levando-os a nocaute verborrágico. Cansei das lutas inglórias on-line
e off-line, e todas suas glórias. Salve a solidão e o silêncio que causei,
e que vou perpetuando pelos dias seguintes.
Vou deixar qualquer conclusão para os leitores que aqui se encontram,
pois se eu pedi para não ser lido, foi por cansaço, e não pela falta de
empenho. E se vocês, caros leitores, estiveram a ponto de deixar-me solitário
e em silêncio, agradeço-os de coração, mas se quiserem prosseguir e chegar
a alguma conclusão concisa, não foi por falta de aviso, mas por insistência
literária. Pois, hoje de manhã, vislumbrei-me no parque das minhas ilusões,
onde não pude pedalar, patinar, caminhar, e nem mesmo refrescar-me pela
falta de calor. Pois, foi lá que visualizei toda minha existência, e senti-me
como uma criança empinando pipa, e é a mais linda do mundo, pois possui
uma rabiola brilhante e radiante numa linha recheada de cerol, e que se
não passei na mão, foi por que não quis repetir a insanidade popular brasileira,
e que se não cantei por aí, foi por que quis ficar em silêncio. Hoje meu
silêncio fala mais alto, ou escreve mais longe, pois, se fiquei quieto,
propus uma revolução literária. Refiz todos meus cálculos eternos, paguei
minhas contas e segui pelo parque das minhas ilusões.
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