1956
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Osvaldo
Luiz Pastorelli
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Um mil novecentos e cinqüenta e seis. Onde ele estava? Com nove anos provavelmente na querida e pequena cidade de Rio Claro, terra natal. Trabalhava? Logicamente, começou cedo ajudar no sustento da casa, já que o pai, fundidor, volta e meia, por seu temperamento esquentado, não parava muito tempo num só emprego. A mãe pedalava a máquina de costura atendendo a freguesia necessitada, às vezes um vestido, outras um casaco, um crochê ou tricô, além é claro, de cuidar da casa. Nunca faltaram na hora certa as refeições, um dia podia ser um ovo acebolado com arroz e feijão, ou feijão com arroz e um bife acebolado, aos domingos, fazia sol ou chuva, o delicioso macarrão com frango, exigência do marido. Nas ocasiões de vaca gorda, o cardápio da semana variava um pouco, nas quintas sopa, ou então um peixe assado. Não lembrava muito bem, não na ordem certa onde trabalhou, não podia dizer que este foi o primeiro lugar, aquele foi o segundo e assim por diante. Lembra da fundição de fundo de quintal, parente da tia por lado da mãe, onde conseguiu a mancha no olho por lixar uma peça de ferro no esmerilho e uma lasca saltou em seu olho; a fábrica de peças de madeira, cinzeiro, estojo, paliteiro, vaso, colheres e outros objetos de uma família alemã esquisita, e que todos os dias no final do expediente levava para casa um saco de serragem para a mãe usar no fogão a lenha; a lavanderia dos japoneses que comiam arroz com água, onde passava o dia inteiro andando de casa em casa, ora entregando roupa ou perguntando por roupa para lavar; ou então a casa de calçados dirigida por uma senhora baixinha, viúva com dois filhos, um rapaz com pinta de playboy e uma filha estudante que volta e meia aparecia na loja datilografando seus trabalhos escolares; e por último, a loja onde se vendia de tudo desde louça até brinquedo e que um dia chegou correndo direto pro banheiro não dando tempo sujando as calças. Provavelmente até o término do primário, de manhã tinha a escola municipal e a tarde trabalhava, deixando a lição para fazer a noite. E quando entrou no ginásio, tendo primeiramente feito o Exame de Admissão, passou a estudar a noite e trabalhar o dia inteiro. E o laser? O laser aos sábados à noite, ir com os primos e amigos ao cinema com dois filmes sendo a maioria deles filmes B com predominância terror e seus monstros esdrúxulos. Aos domingos, ora saia andar de bicicleta ou, junto com o pessoal todo, família, parentes, tios, tias, primos irem para a fazenda do tio mais velho, irmão da mãe. Talvez ajam mais coisas que pudesse lembrar esse ano, um mil novecentos e cinqüenta e seis, mas que, nesse momento em que o doutor extraia o tumor de suas costas, antes de fechar os olhos por causa da anestesia... |
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