O outono chegou frio este ano, as árvores quase nuas, as folhas vermelhas colorindo o chão molhado pela fina garoa.

Essa paisagem, embora linda, enche de tristeza meu coração, tristeza que sobe pela garganta e faz os olhos derramarem lágrimas que teimosamente tento conter.

Tantos anos se passaram e o outono é sempre igual, trazendo à baila sentimentos que desesperadamente tento manter congelados em algum canto perdido de meu coração.

Impossível esquecer aquela tarde de outono quando o mundo acabou para mim, quando fui engolida pelas ondas do maremoto do teu adeus, porém, não consegui morrer. Sobrevivi.

Sei que vivo tal qual um zumbi perdido nas lembranças do passado morto, em busca de uma maneira de não viver no presente ou futuro, apenas nas lembranças que continuam matando, dia após dia por todas as estações, até que o outono chegue novamente e eu acredite enfim que morri.

Tudo seria factível não fosse ter acontecido em 1956, quando eu nem sequer tinha nascido.

PS: Minha alma sofre, ainda que a tua não saiba disso, minha alma clama a tua, ainda que neste mundo não tenhamos nos conhecido.

PS2: Realmente adoraria ter sido eu em 1956.