AS
CHAMADAS
A lua
chama o mar e o mar chama o humilde fiapinho de água, que
na busca do mar corre e corre de onde for, por mais longe que seja,
e correndo cresce e avança e não há montanha
que pare seu peito. O sol chama a parreira, que desejando sol se
estica e sobe. O primeiro ar da manhã chama os cheiros da
cidade que desperta, aroma de pão recém-dourado, aroma
do café recém-moído, e os aromas do ar entram
e do ar se apoderam. A noite chama as flores da dama-da-noite, e
à meia-noite em ponto explodem no rio esses brancos fulgores
que abrem o negror e se metem nele e o rompem e o comem.
O
livro dos abraços - Eduardo Galeano; tradução
de Eric Nepomuceno. Editora L&PM, 2002.
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