Tema 199 - DAMA-DA-NOITE
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ABOIO
Zeca São Bernardo

Frescor da tarde, bem de mansinho a
Noite vem descendo.
Traz motivo o cansaço para apear!

Deixa lá que a tropa se arranja, ali pelos pastos.
Deixa que aqui nos arranjamos nós.
Lenha recolhida por um camarada,
Outro já desce o tacho.
Que sirva de varão aquele pedaço de pau.

Tirada da manta só a quantidade certa.
Picada bem miudinha, pois,
Olha que a viajem é longa.

Olha que pata de cavalo devora légua e o
Destino já, já chega.
Bate aqui ou batemos nas portas dele.
Tanto faz.

Dêem folga as cavalgaduras, lombo de jegue também cansa.
Descansem todos as margens do rio.
Descansem todos bem ás nossas vistas.
Ao tempo de fazer largo o gesto da mão a bainha e
Da faca bem uso, caso nos visite outra vez aquela surucucu
Mandada, de certo pelo próprio curupira.

Cebola, alho, sal, carne seca, arroz...
O mate já ferveu, que descanse agora no raso da cuia
Tererê é assim, prepara-se quente e se toma frio.

Rosto lavado, oração feita, servida a cachaça.
Moda de viola para lembrar daquela morena.
Para lembrar de um sorriso, para ver a lágrima
Que tomba de saudade certa do olho de um colega.
Saudade da mulher, saudade dos filhos.
Saudade todo mundo têm!

Ninguém faz nem caso tão pouco troça.
Finge que não vê, enquanto toma outro gole.
Se não, também, chora.

Histórias cada qual conta a sua.
Chega do reino da fantasia após descanso amadurecido
Na mente muito cheia de sonhos e imaginação uma onça
Do tamanho de um cavalo!
Sê bem vinda.
Fique a vontade, não faço caso.
Aprume-se e descanse bem ao lado daquela boiúna que
Alguém jura que viu.

Só não recomendo descansar muito perto da margem do rio.
Ora, quem não sabe que a Yara para cavalo não liga.
Já coro de homem e de onça têm sua utilidade.
Um enfeita chão, serve bem de tapete.
Já o outro...

Cabeça encostada num tronco.
Manta jogada abaixo na altura dos joelhos.
Espingarda carregada.
Nunca se sabe nunca se sabe a surpresa que a noite traz.
Já dizia meu avô.
Mateiro velho, descanse em boa paz.

Cigarro de palha aceso, sorvo a fumaça e olho o céu.
Gosto de ver a noite chegando assim, de mansinho,
Sem pressa, com muita calma, no sossego da barriga cheia.

Cada estrela vem chegando!
Uma á uma, como que de mãos dadas.
Como crianças quando vão atravessar ponte ou vão para a escola.
Como todos os sonhos e esperanças dos homens!

Ah, meu Bom Senhor, tenha piedade de todos nós.
Gosto de ver, também, o dia nascendo.
Os raios vão rasgando o manto do mistério.
Deixando tudo ás claras.
E as estrelas vão sumindo uma á uma.
Qual arte do saci.
Não, minto e disso não gosto.

Sonhos e esperanças também devem ter para onde voltar!
E porque as estrelas não?
Lá nos céus alguém toca seu berrante.
Abóia as estrelas e elas muito obedientes, seguem.

Ah, meu Bom Senhor, deixa vez ou outra a felicidade do lado
De fora dessa porteira.
Quem sabe assim eu á alcanço com minhas próprias mãos!

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