PELA
CANTIGA DOS NOSSOS ANOS...*
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Yoshie
Furukawa
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Era um velhinho sozinho, viúvo há mais de dez anos, começava seu dia caminhando pelo parque, - "recomendações médicas, ..." , dizia. As pessoas o conheciam pelo seu olhar, o cumprimento, o aceno com as mãos, a pausa para uma conversa entre um caminhar e outro. Seus filhos sabiam onde o achar, pois estavam sempre ligando para saber como estava. Contudo... somente uma pessoa depois de um bom tempo vivendo sozinho em seu próprio lar sabia o que estava sentindo. Não havia como preencher aquele vazio, era preciso se acostumar a ele. Não podia reclamar, havia vivido longos anos com a pessoa que havia escolhido para ser sua companheira. O que lhe pesava era que foi preciso ela estar num outro plano digamos, para poder refletir no quanto esteve ausente durante sua vida. Corria atrelado por causa do trabalho, nos finais de semana saía para treinar com seus amigos. Ela sempre estava esperando... sempre... Mas e agora? Lágrimas começaram a florar, aquietou-se com o rosto sobre o travesseiro e ficou a pensar. A noite estava linda, a janela aberta deixava uma brisa entrar. Podia sentir o cheiro de cada flor que haviam plantado no jardim. Todas as noites passaram então a serem menos vazias. Um vizinho do lado que estava sempre o observando da janela do segundo piso de sua casa percebeu que Sr. F. estava sempre deitado ou sentado no banco do jardim ao lado de uma árvore todas as noites, no mesmo horário, todos os dias. Algumas vezes ouvia um cantarolar, noutras um assovio. Alguns sussurros... não entendia. Uma vez ao passar em frente ao jardim da casa, percebeu um pedaço de papel. Pegou e não conteve a curiosidade, afinal estava aberto, nada lacrado. Começou a ler e então pôde entender os motivos de seu velho vizinho estar lá todas as noites. No pedaço de papel havia umas breves palavras: "Nesse pequeno tempo que estou aqui é como se estivesse com você. Posso sentir o cheiro da dama-da-noite encantando nosso ficar. Quero poder recompensar cada dia que estive ausente e não pude sentir o quanto você estava infeliz. Sei que nunca vou conseguir mesmo achar nenhuma pessoa como você. ..." O vizinho, pegou o pedaço de papel e tentou colocar de alguma forma dentro do jardim de onde o mesmo havia voado naquele vento de outono. Depois de alguns anos ele se foi. Os filhos acharam no meio de suas gavetas um caderno de anedotas. Havia uma centena de poesias e passagens com todas as datas marcadas. Puderam conhecer um outro lado do pai, um lado mais amável, mais vulnerável. O lado que pedia colo. Desta vez ficaram estes a pensar... "Será que fiz o suficiente?" Talvez esta crônica seja para elucidar muitas coisas que passamos. Nunca seremos perfeitos, sempre haveremos de faltar em algo com alguém. Mas a coisa mais importante que devemos saber com o passar do tempo é que nascemos, crescemos, um dia podemos casar, teremos amigos, pequenos grandes presentes que a vida nos oferece. Mas o mais importante é que tudo nos é dado para evoluirmos como seres humanos. Cada palavra de amor que puder oferecer valerá muito em suas vidas. Não haverá tesouro maior para ser doado. Teu coração agradecerá de todas as formas... Te quero sempre Feliz...* |
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