DAMA
DA NOITE
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Tieme
Mise
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Pé ante pé, Chico caminhava tentando não fazer nenhum ruído. Se Zefa acordasse, ele estava frito. Sua mulher não aceitava que ele se demorasse depois do trabalho e desta vez ele tinha realmente perdido a hora, entretido como estava com a dama da noite. Ainda mais que havia bebido dois traguinhos depois da rifa. O cheiro do álcool iria denunciá-lo. Conseguiu chegar até o banheiro sem que fosse notada a sua presença. Pela manhã, arranjari a uma boa desculpa. Zefa roncava a sono solto. Tomou o banho e trocou a roupa, deitando-se quase sem se movimentar. Adormeceu logo em seguida, sonhando com apostas e filas enormes. Quando acordou, Zefa já havia levantado. Tirou da pasta de lona a medalhinha que tinha ganhado na rifa e foi até a cozinha. Abraçou sua mulher por trás, suspendeu seus cabelos, colocou a medalhinha presa á corrente no seu pescoço. Zefa, ao ver o mimo, sorriu e perguntou como quem não quer brigar: -Por que demorou tanto, Chico? -Fizeram uma rifa no trabalho e eu esperei pois havia comprado um bilhete. E não é que fui sorteado? Ganhou ainda por cima um beijo. Foi cantarolando para o trabalho da Fábrica de Papel, a dois quilômetros da sua casa. Três dias depois, foi tentado novamente e sem conseguir resistir, sentou-se com a dama da noite outra vez. Seus amigos também participavam, conversando e rindo. Já estava virando um vício aqueles encontros. Sorrisos aqui, gritinhos ali, mais uns traguinhos e o tempo voando. Zefa, inconformada com a demora do marido, vendo alguns companheiros de turno chegando perguntou ao Afonso por ele. - Ah! O Chico, o Jardel e o Juca ficaram na mercearia da Marina, com a dama da noite. Zefa sentiu a ira subir-lhe as entranhas. Dama da Noite, é? Ele ia ver com quantos paus se fazia uma canoa. Caminhou com passos duros até a mercearia da Marina que ficava entre a Fábrica de Papel e sua casa e entrou abruptamente. Desta vez, porém, ao olhar para a porta, Chico prendeu a respiração. A olhar para ele, furiosa, estava Zefa que foi se aproximando devagar e de repente começou a rir. Chico ficou sem entender enquanto ela bradava a gargalhar: - Dama da noite, dama da noite, e num golpe único derrubou o tabuleiro de damas no chão. Meio sem jeito Chico pediu desculpas a todos e segurando o braço de Zefa que ria por todo caminho, a levou para casa. |
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