Tema 199 - DAMA-DA-NOITE
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CESTRUM NOCTURNUM
Leila de Barros

Laura estava entrando na casa dos cinqüenta anos, mudando seu cosmo, trocando de estação, tanto no âmbito físico como nos humores e o modo de olhar a vida.

- Climatério...é isso então?

Ela se perguntava...

Estava cansada de tanto ouvir dos amigos, da família e da mídia que precisava malhar, praticar exercícios para manter-se em harmonia nessa fase.

Ela detestava academias com aquelas músicas em alto volume, instrutores batendo palmas no intuito de motivar os alunos e esses com os rostos vermelhos e pingando de suor.

Um horror! Digno de um filme do Spielberg, com muitos efeitos sonoros e visuais esquisitos, além do Axé ao fundo.

Muitos de seus conceitos estavam em cheque no seu tabuleiro em preto e branco, sem meios tons.

E foi nesse momento de afinação da alma e do corpo que, muito a contragosto, ela resolver freqüentar uma academia.

Laura pensava em que roupa usaria para malhar, pois nesse período de tantas sutilezas, a renda branca e o algodão eram seus tecidos preferidos, como se pudesse sentir-se mais delicada ao usá-los próximos à pele, que também parecia mudar.

Laura trocava de peles...

Mas não poderia ir a uma academia vestida de renda...

Ela se perguntava que roupas usariam as mulheres nesses locais?

Não desejava se expor demais, mas não queria fazer feio perante as outras colegas de malhação.

Pegou no armário um colant azul-marinho, meia calça azul-marinho e olhou-se no espelho para ver se o resultado era um completo desastre ou se ela estaria pelo menos um pouco sexy.

Sentir-se sexy aos cinqüenta anos... não seria uma heresia?

Laura já começava a vislumbrar mentalmente os professores musculosos ensinando-a a usar corretamente os aparelhos de ginástica e começou a fazer poses, caras e bocas.

De repente, percebeu que não estava sozinha no quarto e escutou uma voz infantil.

- Vó, o que isso? Você quer brincar de Mulher Gato?

E então Laura deu uma boa gargalhada com seu neto e resolver tirar aquela roupa esquisita.

Não! Nada de garotões musculosos, nada de malhação. Ela decidiu:

- Vou fazer yoga, caminhar e pronto!

Na varanda do segundo piso do sobrado, as flores exalavam aquele perfume inebriante de sempre.

Seu vizinho, simples e sábio jardineiro, gostava de dizer sempre para ela:

- São as damas-da noite, a flores Cestrum Nocturnum, elas são "tóchicas" e é preciso ter cuidado ao cheirá-las...

Laura sentou-se mais longe das ditas flores inebriantes.

Tudo o que ela queria naquele momento, era deixar-se inebriar apenas pelo brilho do luar e deduziu que queria ser como a Lua, brilhar e encantar, mas apenas de vez em quando, em algumas fases. E, em outras fases iria precisar ficar oculta e brilhar apenas para alguns corações serenos como o seu próprio e o do seu neto, que já a chamava novamente para dizer coisas doces e engraçadas.

Mas, o perfume traiçoeiro das damas-da-noite lhe traria novas surpresas.

Embaixo de sua varanda, passava um músico, com chapéu de palha e tudo, um desses trovadores urbanos que são contratados.

Alguém na vizinhança estava sendo presenteado com uma serenata...

O músico tirou o chapéu para Laura, sorriu e fez reverência para ela, que sorriu com serenidade, mas sentiu-se ruborizar...

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