NATALINA
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João
Batista dos Santos
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Fiquei algum tempo no forró. Como o movimento não estava bom fui até o ponto de ônibus pegar um lotação pra talvez tomar umas no centro da cidade. Sentei ao lado de uma mulher um tanto feia e um tanto velha. Como eu não tinha pegado ninguém naquela noite resolvi abordá-la. - Você estava no forró? Apesar de parecer meio triste ela ficou contente com a minha investida. - Estava. - Vai pra casa agora? - N ão sei, acho que sim. - Parece que você está meio triste. O que houve? - Nada, é que hoje é véspera de Natal, né? - Ah, eu sei, nessa época a gente fica meio deprimido mesmo. - Pois é, no nascimento de Jesus e ainda mais que o meu aniversário é hoje. Apertei a mão dela e dei-lhe uns beijos no rosto. - Meus parabéns. E por que você não está em casa? Não fez festa? - Não, eu sou sozinha. E minhas amigas e parentes viajaram. - Ah, que pena... - E por isso que meu nome é Natalina... Por ter nascido nas véspera desse dia tão lindo. - Poxa, que beleza de nome. Muito prazer, Natalina. - Pois é, eu fiz uma ceia em casa, comprei até vinho, mas não tive coragem de comemorar sozinha. Percebi que era a minha deixa. - Se você quiser eu posso ir lá na sua casa, comemorar com você, Natalina. Ela ficou meio indecisa. Mas cedeu. - É. Parece uma boa ideia. - Não vai te atrapalhar não? - Que nada. Você é tão bonita. Separada? - Não, sou solteira mesmo. Só podia. Feia daquele jeito. - Mas você é tão linda. Onde você mora? - Lá no Vivi. - Olha, está chegando o ônibus. Vamos lá então? - Vamos. No terminal, tomamos outro lotação pro conjunto onde a fera morava. A casa popular dela até que era bem arrumadinha. Cheguei e já fui abrindo o vinho pra encarar. - Feliz Natal, Natalina. Parabéns pelo seu aniversário. Deixa eu marcar seu telefone antes que eu me esqueça. - Olha, esse aqui é do serviço, esse, de casa. Você jura que vai me ligar? - Juro. Depois de algumas garrafas de vinho e de alguma fraca resistência dela transamos no sofá, perto do presépio. Sorte que aí ela dormiu. Não gostei nada dos peitos caídos dela. E nem de ver que quando ela comia, principalmente nozes, sua dentadura de cima se mexia. Mas não foi por isso que quando eu fui embora, levando os santinhos e bichinhos de plástico do presépio dela, fui chutando-os, rindo meio amargurado, pelas ruas escuras do Vivi, enquanto procurava um ponto de ônibus. Por força do hábito, ou, talvez, por sincera compaixão, deixei uma nota de cinquenta perto dela. |
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