A
VISÃO PERFEITA
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Eva
Ibrahim
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Alberto estava satisfeito, encontrara o apartamento que queria; ficava no terceiro andar de um prédio residencial. Era pequeno, mas estava bem localizado e dentro de seu orçamento. Tirara férias para fazer a mudança, queria colocar tudo em ordem, nos mínimos detalhes. Deixara a mulher em seu antigo apartamento depois de muitas brigas; queria sossego enquanto aguardava a separação. Seu casamento fora um perfeito desastre, ainda bem que não tiveram filhos, foi mais fácil tomar uma decisão. Estava livre daqueles grilhões que infernizaram os últimos três anos de sua vida; ansiava por liberdade, queria viver a vida sem ser vigiado o tempo todo. Com certeza não havia nascido para o casamento, era muita cobrança; conseguira sair fora. Estava encantado com o apartamento e o sossego que reinava naquele local. Era um homem jeitoso na arrumação e na cozinha; viveria muito bem sozinho. Estava em férias e dormiria até tarde, depois sairia para conhecer a vizinhança. Á noite ficaria á vontade curtindo sua solidão, que neste caso era positiva. Sentia-se como se tivesse chegado da guerra, estava exausto de brigas; queria a tão cantada paz. Depois de alguns dias em completo retiro Alberto começou a ficar inquieto; solidão demais incomoda. Debruçou na janela para olhar o movimento da rua e viu que havia um ponto de ônibus bem em frente ao prédio. Ficou um tempo olhando e viu uma morena vistosa com uma grande sacola na mão; pensou que daria um "bom caldo"; estava sentindo falta de companhia. Há tempo que não fazia sexo, pois, sua mulher impusera greve, desde que as brigas aumentaram. Ele era jovem e seus hormônios estavam fervilhando, por hora se concentraria naquela visão. Há quinze minutos a mulher estava ali, depôs a sacola no chão, parecia pesada e ela não tirava os olhos da Avenida; aguardava ansiosamente o coletivo. Alberto estava curioso para ver aonde ela iria; o ônibus se aproximava, no alto ele leu: "JARDIM DO SOL". A mulher sumiu por detrás do ônibus e ele entrou para jantar a comida que fizera; estava sentindo-se abandonado. Ficou imaginando como seria um lugar chamado Jardim do Sol; com certeza teria muita luz. No dia seguinte, no mesmo horário ele debruçou na janela á espera da morena; coisa de desocupado. Depois de alguns minutos ela apareceu; estava mais bonita, vestida de vermelho. Com certeza era uma provocação, ele adorava mulheres de vestido vermelho. Ficou fascinado olhando aquela figura, que de longe parecia uma deusa. A visão perfeita o transportou para seus mais íntimos desejos; estava carente. Ela adentrou o ônibus do Jardim do Sol e ele entrou, estava pensando em descer para vê-la de perto, certamente a encontraria no dia seguinte, no mesmo local. Dormiu e sonhou com a mulher, estavam dançando em um baile. Ela rodopiava em seus braços com aquele vestido vermelho e quando ele a puxou para lhe dar um beijo, ela sumiu. Acordou assustado. -Será que ela era casada? Teria que tomar cuidado! Pensou e resolveu comprar um binóculo, assim, poderia ver suas mãos e se havia aliança; deixaria para descer outro dia. Não queria arrumar confusão, teria que sossegar o "facho" como diria sua mãe. Pensou na moça o dia todo e á tardinha ele estava lá com o binóculo em punho. Ela apareceu, estava linda, com um vestido florido, o que a deixava mais feminina; Alberto não gostava de mulheres de calças compridas, pareciam homens. Calibrou o binóculo e a trouxe para bem perto de si; agora sim, a veria em detalhes. Começou pela cabeça, ela tinha grandes olhos negros, boca carnuda e cabelos cacheados, estava aprovada. Descendo o olhar ele viu um corpo bem feito, com cintura fina e pernas grossas; era exuberante. Fixou nas mãos, que eram finas e não trazia nenhum tipo de anel, portanto, deveria ser livre. O rapaz ficou alegre, aquela paquera prometia. Ajustou o binóculo novamente e parou em seu colo, onde havia um cordão com uma linda estrela brilhante. Durante dias ele ficou olhando á moça com o binóculo e não tomava coragem para ir vê-la de perto, temia ser mal interpretado e estragar tudo. Alberto foi ao Banco pagar algumas contas e quando olhou os caixas ele a viu; ela era caixa do Banco, por isso pegava o ônibus ali em frente á sua casa. Ficou o tempo todo olhando á moça, era linda, mas ela nem notou sua presença, estava ocupada demais. Em certo momento Alberto sentiu-se ridículo por estar vivendo um amor platônico, justo ele que se julgava um garanhão. Foi para casa e ficou imaginando o que faria para saber mais da vida dela e depois tentar uma aproximação, tinha tempo de sobra e o usaria como detetive. Tirou o automóvel da garagem e parou na Avenida á espera do ônibus; iria descobrir onde ela morava. Seguiu o coletivo por uma hora. - Nossa! Como Jardim do Sol ficava longe, era na periferia ou "onde Judas perdeu as botas". O coletivo parou em uma rua sossegada, a moça desceu e entrou em uma casa grande; "PENSÃO DA MALÚ". Parou do outro lado da rua e ficou á espreita; depois de quinze minutos ela saiu acompanhada de um homem. Os dois seguiram conversando por dois quarteirões e entraram em um bar; parecia um antro de maus elementos. Em seguida saíram carregando bebidas nas mãos. Alberto voltou para casa decepcionado, conseguira grandes progressos em sua investigação; a moça parecia uma mulher de programas. No dia seguinte iria planejar a aproximação, teria que ser perfeita. Quando faltava pouco para a moça chegar ele dirigiu-se á parada de ônibus e ficou esperando, se fosse preciso iria até o Jardim do Sol. A moça chegou, o coletivo encostou e ele entrou atrás da moça; esperou que ela sentasse, para sentar-se ao seu lado. Ali estava Alberto perto de seu desejo de consumo. - Como abordá-la? Sabia que sua casa era distante e teria tempo para iniciar um diálogo. O ônibus balançou e ele aproveitou para derrubar o celular que estava em suas mãos, caindo nos pés da moça. Desculpando-se abaixou para apanhá-lo iniciando uma conversa; deu certo, ela sorriu e foram trocando palavras. Disse que seu nome era Ésther, viera do interior e trabalhava em um Banco no centro da cidade. Essa parte ele já sabia, mas ouviu interessado e completou dizendo que morava no centro e estava indo visitar um amigo. Desceu antes dela para não dar na vista, seu plano dera certo, provocaria um novo encontro. Foi difícil segurar a onda, mas conseguiu parecer natural. Alberto armou uma estratégia para não demonstrar interesse exagerado; passou dois dias vendo-a através do binóculo. Seu interesse aumentava a cada dia e resolveu provocar outro encontro; pegou o ônibus um ponto antes e guardou o lugar para ela. A sorte estava ao seu lado, ela veio sentar-se aonde ele queria. - Que alegria! Veio sorrindo e cumprimentando o rapaz; Alberto ganhara o dia. A conversa fluía fácil, ela estava sozinha e parecia ter gostado dele; marcaram um encontro para um baile, no sábado á noite. A vontade do rapaz era encontrá-la no dia seguinte, porém, esperaria e agiria com calma ou ela perceberia sua ansiedade. Ainda bem que tinha o binóculo e ficava olhando Ésther todas as tardes; era uma visão perfeita. Alberto nada sabia sobre a moça e passou a aguardar os acontecimentos, não queria parecer atrevido, embora sua atração pela moça ficasse evidente á cada dia. Ela apareceu vestida de preto com os seios fartos querendo saltar do vestido, Alberto fervia por dentro. O primeiro encontro foi mágico, conversaram sobre a vida de ambos e ela o convidou á dançar. Um forró na periferia, cheio de pessoas conhecidas de Esther. Alberto não gostou do ambiente, lhe pareceu perigoso; ficou com medo. Esperou um pouco e convidou á moça á sair. Foram á um motel fazer amor, onde passaram momentos maravilhosos. O rapaz ficou cismado, ela era profissional, mas, estava muito satisfeito. Passou dias olhando pelas lentes do binóculo, estava apaixonado, mas, aquela não era moça para ele; ficaria na espreita. Depois de alguns dias a viu com outro homem e depois com outro e mais outro; era uma dama da noite. Queria comemorar com ela, pois, estava carente, a levaria á outro motel. A dama da noite o fisgara de um jeito que nada mais importava; queria levá-la para casa. Ele passava o tempo todo imaginando a moça nos braços de outros homens, estava louco de amor. - Será que ela recebia para transar com outros homens, Alberto nada pagara; dúvida cruel. O rapaz apaixonado queria Esther para si, faria tudo para que mudasse de vida, queria aquela mulher em sua cama todos os dias de sua vida. Não contaria á ninguém suas suspeitas, deixaria suas convicções de lado para esquecer o passado dela. Alberto sorri, ama aquela mulher e por ela fará tudo que puder, aprendeu a amá-la. O bom senso indicará o caminho a seguir; durante o dia ela trabalharia no Banco e a noite ficaria com ele. Esther deixaria de ser a dama da noite para ser sua esposa. Seja qual for o caminho, o amor superará todas as barreiras. Saíra de um casamento terrível e jurava não casar mais, mas, encontrou a mulher de sua vida. Embora seja uma "Dama da Noite", tem para ele a visão perfeita e com ela ficará para sempre. |
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