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DAMA DA JANELA...
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Djanira
Luz
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Quando Rosa perdia o sono, varava noite lendo, zapiando canais de tevê, navegando na internet ou jogando tetris no mini game. Saudade, tristeza, ausência, preocupações, alguma coisa assim a despertava em ansiedade e angústia. O relógio marcava vinte e três horas e sete minutos daquela quarta-feira e vontade nenhuma de dormir. Tentativas para relaxar era recorrer ao copo de leite ou chá quentinho, olhar a lua ou a chuva conforme o tempo que se mostrava lá fora. Muitas vezes chovia dúvidas dentro em si enquanto no quintal o céu aberto mostrava-se repleto de certeza em estrelas luzindo, luzindo. Na ausência de carneirinhos, Rosa contava estrelas na vã tentativa de adormecer. Foi até o escritório. Na gaveta da escrivaninha buscou papel e lápis. Voltou para a sala. Abriu a janela, debruçou-se sobre ela e rabiscou uns versos na folha branca. Ensaiou uns desenhos abstratos. Não conseguia dar forma a nada, pois imaginação não havia em mente capaz de criar algo concreto. Pensava nas tolices cometidas, nas palavras soltas no momento de impulso. Quanto mais lembrava, menos se concentrava. Desistiu do papel, abandonou o lápis. O ruim das horas de insônia era que o pensamento enchia-se das burradas feitas, das palavras desnecessárias. É! O que se diz indevidamente são dispensáveis. Vinha-lhe a mente também os problemas da família. A lembrança da tia doente, a avó que não via há meses por conta do trabalho. Todos esses pensamentos serviam para lhe abarrotar de culpas, aumentando-lhe a ansiedade. Quis roer as unhas. Freou a vontade. Lembrou-se da festa de noivado da amiga no sábado próximo. Como se buscasse algo, Rosa parou um instante. É que sentiu um aroma adocicado invadindo a casa. Correu os olhos para o quintal buscando identificar de onde vinha tão sutil olor. Deslumbrou-se ao ver uma linda flor aberta. Ela era um convite ao sorriso, a boas lembranças, a horas felizes, a esperança de tudo acaba bem no fim! Da janela, Rosa de pele alva contemplava extasiada a flor da mesma cor da sua tez. Brancas. Ambas. Rosa e a flor. Havia cumplicidade entre elas. Um silencioso diálogo acontecia entre Rosa e a flor. Sinestesia. Mistério, beleza, afetividade. Uma permuta de sensações. O aroma, a beleza singular da flor devolvia a Rosa a paz que faz adormecer. Um bocejo, uma vontade de ir para a cama. Sorrindo, Rosa respirou fundo como se quisesse tomar emprestado da encantadora flor todo o aroma inebriante. Fechou a janela e foi dormir. A natureza presenciou naquela noite um doce encontro. Na janela e no jardim da casa. Elas, as Damas da noite. |
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