NOITE
NO JARDIM
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Aline
Carvalho
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À noturna luz veludo-azulada, as pedras prateavam, ainda cálidas do dia. Levavam a três degraus de mármore, que davam acesso à porta de vidro. Ao lado, ela ficava. Vestia-se toda de branco, esplendor ao luar. Quedava-se imóvel, esperando não se sabe o quê. Um esperdício de perfume, nuvens olorosas ao sabor do vento. E ela ali, prateada na noite. Dama-da-noite. Ao seu lado eu me sentava. O caminho de prata azul eu nã o sabia se era uma saída ou uma rua sem fim, com seu pesado portão de ferro que não podíamos abrir a não ser por mãos alheias. O caminho azul prateado não trazia os passos que eu queria ouvir, e eu ali, rosto laminado embriagado de perfume, vestido branco-fantasma de bruma. Qual das duas era a mulher, qual das duas era a flor? O perfume era de quem? De quem era a solidão? A quem pertencia a espera imóvel ao luar? Aos dois troncos, à seiva que das duas brotava, à raiz que às duas imobilizava, uma real outra metafórica, ambas paralisantes no tempo e no espaço? Tempo e espaço deixaram de existir. Só o perfume e a espera. Só a embriaguez da noite, com aquele caminho metálico que não trazia ninguém nem levava a lugar nenhum. Os morcegos e as mariposas voavam tontos. Minha cabeça rodava, tonta, sofrimento também é azul, mas não evapora na noite. O movimento suave dos ramos, as folhas rodando, rodando, as flores, o perfume azul no ar, a embriaguez pratead a e a lua. A rua parecia longe, atrás do portão de ferro, no fim do caminho das pedras brilhantes e desesperançadas. De repente, a imobilidade. As folhas pararam, suspensas. As flores viraram-se, mudas. Ruídos de passos depois do portão de ferro. A claridade lunar brilhava num vulto alto e prateava dentes semi-escondidos num sorriso. O perfume tornou-se insuportável e explodiu em mil cacos de cristal enquanto o cavalheiro, enfim, resgatava sua dama da noite interminável. |
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