ONÍRICA
(NUDEZ 1)
|
|
Tânia
Barros
|
|
E um dia brincava com palavras jogadas ao papel. Lembrou-se da brincadeira de "amarelinha" da infância, cujo objetivo era chegar ao céu. Amar seria um elo para lá chegar? Perguntou-se enredando a lembrança do passado ao seu momento atual. Ao seu redor e dentro dela surgiram nuvens de pensamentos fugzes: cenas de filmes, cólicas menstruais, e-mails impressos e espalhados sobre a escrivaninha do quarto de menina-moça, com smiles, corações, códigos de linguagem próprios do seu grupo etário pleno de fronteiras a desvendar. Quantos degraus para chegar ao céu? Seria lugar proibido, apenas para ser visto de longe, sonhado? Cairia muitas vezes? Estava, assim, ao sabor de brinquedos em construção querendo ser algo mais. O céu era aquele garoto em suas diárias doses de vista ao longe, de chegadas esquematizadas numa balada, ou na saída da escola. Era um som de cordilheira atravessada com skate no limite daquilo que nunca era tudo, limite sempre alegremente trágico. Na des-corrente do pensamento dormiu em nuvens poderosas, e dentro da camisola cor laranja salpicada de símbolos chineses, dançou ao som da festa da noite anterior, em ritmo de beijo non-sense, indo e indo, até não mais verem retorno, ao menos não antes de ao céu chegarem. Mas ambos caíram em flagelo daquele salto para o céu, que nem tanto agora importava, que nem se sabia de fato existir além do vôo bom entre as cordilheiras, virgens, em degelo. O relógio despertador soou. Seu despertar a jogou para fora dos limites daquele céu-jogo amoroso. Olhou ao redor e viu o papel rabiscado antes de adormecer. Agora ele contava a história de palavras, conceitos e brinquedos perdidos entre a infância e o futuro abrindo-se em leves toques de primeiro amor, margaridas, cadernos, fotos, boletins escolares, sapatos e saltos um pouco mais altos. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|