SONHO
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Leonardo
Lopes
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Folhas e folhas se envolvem nos meus pés e me impedem a caminhada. Longa e úmida, com passos temerosos e lentos, sinto nos dedos as raízes emergentes das grandes árvores, que muito acima de mim, ainda me protegem de um orvalho que ameaça ser chuva. O Sol já não me acompanha. Caiu o dia e o vento típico daquela hora balança os galhos, e as folhas caem, sobre meus ombros, minha cabeça. Os pássaros recolhidos gorjeiam um canto tímido, ouvido como cantiga de ninar que me encanta. Meu destino ainda está longe. Para os que me vissem andar, diriam estar doente. Os passos, de lentos se tornaram pesados. A umidade da terra deu lugar a um lodo espesso, a abraçar meus pés, meus tornozelos. Cansado, molhado pela chuva agora evidente, busco o apoio de um tronco. Nele, a casca grossa e verrucosa me mostra um novo mundo, um cosmo particular. Um sem número de insetos, de vida brotada das nervuras da casca, seres esquecidos do que se passa a seu redor. As gotas de chuva, transformadas em rio pela copa, escorrem nesses sulcos profundos, sem no entanto deslocar nada de seu lugar. Somente as folhas, como pétalas de rosa, caem, num misto de festa e cenário lúgubre. Teresa, por ser criança, acha tudo uma graça. Pula os galhos das árvores com energia fantástica. A cada minuto, distancia-se de mim, indo à frente, para voltar logo em seguida, contando-me das novidades do caminho. Aprecia as asas das borboletas, agora escondidas em meio à vegetação. Quando me sento, fica a meu lado, contando as sementes que coletara, escondidas no bolso de seu vestido. Levanta-se e, com ajuda de um graveto, se ocupa a furar pequenas covinhas, onde deposita as sementes na esperança da germinação. É noite quando decidimos parar. Deitados, olhamos um para o outro. A terra fria, longe de nos causar desprazer, nos acolhe. Ali sentimos nossa gênese e nosso ocaso. E por isso, tudo faz sentido. Ali estávamos pela primeira vez; no entanto a mata nos parecia familiar. Sentíamos, depois de muito tempo, a sensação de ter herdado felicidade. Adormecemos rapidamente, para acordarmos, horas depois, já separados, cada um em sua cama. Respiramos e desejamos voltar: o Sol já se levantara. |
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