A
VIAGEM
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Daniela
Fernanda
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Passaram 15 anos de suas vidas juntos. É bem verdade que, mesmo com todas as dificuldades financeiras, o amor e o companheirismo brindaram aquela relação. Porém, os últimos 3 anos tinham sido economicamente diferentes. Os negócios haviam melhorado muito e eles conseguiram comprar um confortável apartamento de quatro dormitórios, dependência de empregada, salas amplas, churrasqueira, lareira ... Os filhos já não eram mais tão pequenos, e agora eles poderiam aproveitar juntos um pouco mais dos prazeres que a vida oferece a um casal maduro. Mas foi exatamente neste momento, quando tudo parecia tão bem, faltando apenas um mês para o natal, que ele a deixou por outra. Ainda que a tristeza permeasse aquele lar, na noite da celebração ao nascimento de Cristo, o então ex-marido, juntou-se à ex-família, oferecendo assim uma noite razoável às crianças. Já na passagem de ano novo, ele resolveu comemorar a solteirisse e deu apenas uma passada rápida, pelo ex-lar, apenas para beijar os filhos. A ex-esposa pode observar o quanto ele estava bonito, bem vestido, bem penteado e perfumado - e ele estava usando o perfume que ela mais gostava. Naquela noite ela chorou, sofreu, amargou, agonizou... e só então adormeceu. No período das festas do ano seguinte, ele levou as crianças para viajar, e ela ficou na perigosa companhia da solidão e do sofrimento. Sobreviveu. Mais um ano se passou, e naquele reveillon ele deu um telefonema da praia. Fez questão de falar com ela para desejar-lhe felicidades no próximo ano, fingindo não saber que felicidade para ela, era estar ao lado dele. No primeiro trimestre daquele ano, ele anunciou que faria um cruzeiro. Iria de avião até a cidade da qual o navio partiria, ficaria apenas três dias no tal cruzeiro, e retornaria também de avião. A pobre mulher não entendia mais nada, pois durante o longo tempo que foram casados, ele jamais viajou de avião. Tinha medo de altura, sofria de claustrofobia e só de pensar no mar, entrava em pânico. Antes da viagem, deu um pulinho apressado na casa dela para despedir-se das crianças, prometeu trazer presentes para todos e partiu. Mais uma vez ela pode verificar o quanto ele estava belo. Parecia mais jovem, mais alegre, mais atraente. As roupas que usava eram modernas, de bom caimento, caras. Ela daria a metade do tempo restante de sua vida ou toda e qualquer economia que tivesse, para poder estar ao lado dele naquela viagem. Porém, nada que dissesse ou fizesse, seria capaz de mudar aquela situação. Como os ventos sopram para vários lados, um dia o cruzeiro vira... Eles acabaram se reconciliando e ela já não possuía motivos para chorar ou sofrer. Afinal, para tê-lo, teve que acostumar-se com os casos que ele mantinha. Quando se completou um ano de paz reconquistada naquele lar, ele anunciou que havia ganhado outra viagem de navio. Ela, então funcionária recente de uma empresa, não poderia ir com ele. Contrariando a todas as expectativas dela, ele resolveu ir sozinho. As crianças estavam na casa da avó na noite em que ele ligou do navio. Disse a ela o quanto estava sentindo sua falta, o quanto a amava e o quanto gostaria que ela estivesse lá para contemplar a beleza das estrelas, vistas do mar aberto. Disse-lhe também, que em breve estaria de volta, e que não esqueceria de levar-lhe os presentes que prometera. Quando desligaram o telefone, ela não chorou como da outra vez, e antes de deitar-se pediu ao seu acompanhante que buscasse mais uma garrafa de espumante na geladeira. |
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