Leco correu à frente e foi se esconder atrás do poste. Já era 1 da manhã e ninguém estava na rua. Nenem apareceu também e, com medo fazia o pai-nosso. Aos poucos a turma chegou. Leco, Nenem, Dalberto e Dim. Nenem era o único que nunca tinha matado. Fazia apenas pequenos furtos e agora estava ali, pronto para o que desse e viesse. Nenem lavava carros no Santa Efigênia e era o do meio de uma família de trés filhos. Nunca conheceu o pai, mas a mãe era uma leoa. Fizera o possível pra educar os meninos. Dalberto viera não se sabe de onde. Não tinha passado e bebia até cair. Antes de cair tinha coragem pra qualquer coisa. Dim era o cara com o passado mais comprometido. Já tinha roubado e fumado de tudo nessa vida. Falavam até que ele tinha matado o Vicentão. Leco era primo de Dim. Gostava de loló e brau. Roubava até cueca em varal.
Do outro lado da rua Tião Trapaceiro se prepara para fechar o boteco. Teve um dia longo e para dispensar os dois últimos bebuns tinha sido uma canseira. Tiao é meio cego e manca da perna esquerda. Ficou cego porque tomou um soco na cara dado por Vicentao e anos depois, bêbado, bateu o carro e ficou manquitola. Azar demais, diziam dele.
Os meninos estão preparados. Irados. Nenem tá com medo. Dalberto quer é bagunçar. Dim e Leco cantam uma do Bezerra. Tiao, bêbado, abaixa a porta e por um instante dá as costas para a rua. É a deixa! Os meninos entram rápido se espremendo por baixo da porta.
Quê isso? Cês tão loucos?
Calma Trapacinha - diz Leco- Só vamos fazer uma farrinha com você!
Comigo? Fiz nada não. Tô fechando o boteco. Vou chamar os home!
Calma ! - gritou Dalberto- Cê se ferrou cara. Mexeu com a mulher errada! Cê ferrou a Lulu!
Nem sei do que tá falando! Me deixem em paz!
Dalberto coloca a quadrada dentro da boca de Tiao, que chora sentindo o cano frio da pistola entre os lábios.
Cê tá ferrado, cara. A Lulu contou tudo. Morreu de medo mas contou. Covarde! Puto!
Dalberto tinha mesmo coragem. Tiao Trapaceiro só chorava.
Vamo comê seu figo, rapaz! Vai aprender a não ferrá menininha nova - falava Dim no ouvido do manquinho.
É isso aí. A Lulu só tem 12 anos. Nem tem peito ainda. Você é um covarde, safado.
Pelo amor de Deus. Não me mate. Tenho família Só fiz com ela porque ela falou que queria e aí depois ela ainda me roubou metade do caixa.
Mentira. Você obrigou a menina, maluco, trapaceiro. Tá ferrado. Mais num vamo te matá não. Mas cê vai tê sua paga. Essa treta é do cão, barrigudo.
Tiao suava e pedia pra não ser morto. Corria na favela um boato que ele teria estuprado Lulu, uma menina de 12 anos. Não fugira. Ficara na favela depois de espalhar a noticia de que ela o tinha roubado. Leco pressionou Lulu que contou tudo. Agora era hora do acerto de contas. Era a forra.
Nenem tremia e assim bateu na cabeça do velho com o toco de fechar a porta. O Trapaceiro desmaiou. Dalberto e Leco que eram mais fortes sentaram Tiao num banco de madeira do boteco. Tiraram sua roupa. Bateram bastante nele depois beberam cerveja. Dim fumou um Derby. Leco foi quem deu a idéia.
Vamo matá ele não. Mais vamo ferrá ele legal. Me ajuda aqui!
Amarraram o corpo desmaiado e nu no banco e puxaram o saco de Tiao pra frente. Dalberto pegou um martelo e rindo pregou as bolas do homem na madeira. Foram 12 pregos, desses de 2 polegadas. Era por Lulu. Saíram pela favela tomando vermute Cortezano e rindo alto. É a lei do morro.
Nenem deitado na cama de ripa só pensa em Lulu. Por que o Trapaceiro tinha que ser o primeiro? Filho da puta! Cospe no chão de terra do barraco, ajeita o travesseiro de jornal e dorme tranqüilo No dia seguinte tem 6 carros para lavar.
|