Carlos respondeu a Marina, depois de tentar argumentar inutilmente diante da resistência dela de encarar, de maneira mais flexível, a atitude dele.
Chamá-lo de trapaceiro era a ultima coisa que ele imaginaria ouvir. Justo ela que parecia conhecê-lo tão bem.
Quem estava certo?
A seu favor, Carlos argumentava que a filha dele estava saindo de viagem e precisava do remédio indicado pela médica dela. No entanto, a médica viajara, a receita havia sido esquecida dentro do consultório e o horário do vôo da filha se aproximava.
Que mal ele fazia em procurar a melhor estratégia para resolver a situação?
Ir ao Pronto Socorro e pedir uma receita em nome da filha, poderia ser temerário pois dificilmente um médico se arriscaria a prescrever um remédio "tarja preta", sem conhecer o histórico de uma paciente jovem.
Talvez fazer-se passar pelo paciente pudesse ser uma estratégia. Afinal, tinha idade e um histórico de saúde persuasivo, aumentando-lhe a chance de conseguir o remédio a tempo de entregar a filha antes dela viajar.
Marina, no entanto, alheia a sua agonia, acusava-o de trapacear, deixando Marcos muito triste pois sempre se orgulhou de primar pela ética e de se considerar politicamente correto.
Inconformado, questionava: "-Como ela poderia, de modo tão simplista, classificar o seu comportamento como trapaça, se havia a autorização médica para a obtenção do medicamento em nome da jovem?"
Eis que, do nada, no meio de tanta celeuma, Marcos recebeu a visita de um amigo farmacêutico que, tendo conhecimento do que estava ocorrendo, entregou-lhe o remédio se predispondo a esperar pela receita, pondo fim ao drama que tanto o afligia.
Agora, quanto a ser trapaça ou estratégia - do jeito que Marcos e Marina eram turrões, estava claro que não chegariam a nenhum acordo, ficando este conflito sem solução.
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