Saiu do cartório com um sorriso meio enviesado nos lábios. Que Maria Clara que nada. A menina se chamaria Jussara, como a sua avó. Sabia que quando chegasse em casa o pau ia quebrar, mas já estava feito. Pensou no grande sorriso do seu pai, já bem velhinho, que não pouparia a descida da dentadura, um pouco folgada com o tempo.
Sua mulher, sim, era para ser temida, com o gênio explosivo que tinha. Mas quem mandou ela não vir registrar a menina? Era a terceira filha e a nenhuma delas quis dar o nome de sua avó paterna. Agora não havia mais jeito de tirar. Finalmente conseguira.
A primeira era Analice, nome da avó materna! A segunda Ana Cristina, a melhor amiga da mãe. A terceira seria Maria Clara, uma personagem da novela das oito que (riu baixinho) havia dançado o "Quem parte leva saudades..." Agora era Jussara e acabou!
Chegou em casa.
- Registrou, Antônio?
- Sim, Nanda (o diminutivo de Fernanda, mulata cadeiruda e cheirosa, com a qual se encantara a sete anos atrás.)
Entregou o registro cheirando a tinta, novinho em folha. Já se encaminhava para o banheiro quando ouviu o grito de sua mulher:
- O que você fez, homem? Porque mudou o nome da garota? E que nome é esse?
Antonio voltou às pressas segurando a bexiga ainda cheia. Pegou o registro que a mulher sacudia possessa, e leu pausadamente :
- Jussara! O nome de minha mãe. Não gostou, foi?
- Que Jussara que nada, Tonho. O cartório registrou Jusara! Falta um s aqui.
Relendo devagar Antonio constatou a veracidade dos fatos. Pois então que assim fosse. Seria Jusara. Com exclusividade! |