Tema 194 - EXCLUSIVIDADE
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EXCLUSIVIDADE
Osvaldo Luiz Pastorelli

Esse negócio de exclusividade é merda, disse ele. Não gostava dessa palavra. Não era exclusividade de ninguém e ninguém era para ele exclusividade. Que porra é essa afinal? Por que ela proferiu tal atrocidade num antro de mofinos preocupados com eles próprios em suas vidas mofentas de inúteis. Só porque foi para cama com ela, tem ela o direito de se achar exclusiva, é? Não tem claro que não têm. Se ela se acha o problema é dela, disse para si mesmo.

O culpado dessa porcaria toda fora o André, aquele filho da puta. Ele que engendrou toda a artimanha em que colocou Rildo contra a parede. Chegou a se atracar com ele por causa disso. Ficou dias e dias sem se falarem. No fundo Rildo até que achou o troço legal, quer dizer, talvez ele tenha saído com saldo positivo. É claro, sentiu-se, e sabe que foi enganado, e isso o deixava constrangido misturado com ódio, até pensou em vingança. Passadas as águas turbulentas, riu de tudo e, chegou à conclusão que a menina, a Leda, até que era gostosa e bonita. Não tinha uma conversa decente, uma conversa inteligente, somando tudo corpo, peitos, bunda, olhos, sexo, boca, ah! A boca, que coisa exuberante. Dava nota sete para ela.

Como sempre, foram para a balada de todos os santos sábados, numa casa noturna recentemente inaugurada. Já estavam bebendo do mesmo copo umas duas horas, principalmente as meninas com suas caipirinhas de saquê e morango. Os homens não eram de ficar com o mesmo copo por duas horas, portanto tinham bebido uns cincos copos de chope acompanhado de uísque que passava de mão em mão. Foi então que o André se aproximou dele e disse apontando para uma moça loira encostada no pilar três mesas depois deles.

- Está vendo aquela moça?

Está vendo aquela moça? Claro que ele estava vendo aquela moça? E o que é que tem aquela moça? Pensou em dizer, mas ficou a espera. Apenas acenou com a cabeça que sim. A música alta não deixava ouvir com nitidez o que se dizia.

- Ela está interessada em você, gritou André.

- É. Em mim!

- É em você.

- E por que eu?

- Ora, como posso saber. Vai lá falar com ela.

- Não é preciso, ela vem em minha direção.

- Oi!

- Oi!

- E aí garotão, ta afim?

- Sim... Bem... Claro.

- Vamos dançar?

- Vamos.

Pegando na mão dela, Rildo a levou ao meio da pista. Dançaram duas, três, quatro, cinco músicas. E aí, ela disse para ele, gritando em seu ouvido esquerdo:

- Vamos sair daqui?

- Vamos.

Puxando-a pela mão direita, saíram da boate. O ar fresco da madrugada bateu em seu rosto quente.

- Aonde vamos meu garotão?

- Escute aqui, ó mina. Não sou seu garotão, tenho nome, Rildo prazer.

- Desculpe. Prazer, Leda. Mas aonde vamos?

- Não sei o que sugere?

- Não sugiro nada, você é quem manda, é o dono da noite, isto é, da madrugada.

- Para começar sugiro é nome de japonês.

- Engraçadinho, já te disseram isso?

- Já. Vamos pro motel?

- Uá, o moço está nos trinques mesmo. Claro, vamos logo então.

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O sol beijava as coxas dos lençóis amarfanhados quando Leda lhe disse:

- Você um cara legal, gostoso, bonito, tesudo, que sabe como deixar uma mulher satisfeita, está cobrando pouco.

- O que? Cobrando?

- É. Cobrando.

- Como assim?

- Ora, paguei ao seu amigo dez reais para transar com você.

- O que?

- Que cara de espanto é essa? Você não é michê?

- Não, não sou. Vou quebrar a cara daquele filho da puta, ah se vou.

- Bom, se não é tem cara e espero usufruir novamente...

E assim se separaram. Rildo passou dias sem ver André. Desconfiou e, estava certo, o amigo procurava não se encontrar com ele. Esperava uma oportunidade em que Rildo estivesse com a cabeça mais fria, não estivesse com tanta raiva dele. O que não adiantou nada. Ao se encontrarem, Rildo pulou no pescoço de André de tal maneira que foi preciso cinco para separar os dois.
O saldo da contenda foi que André saiu com um olho roxo e Rildo com um dente quebrado que o deixou mais com cara de michê.

- Michê, isso o que você é, berrou André.

- Michê, vá à merda, respondeu Rildo

Em seguida caíram na gargalhada. Hoje a amizade continua numa boa e Rildo deixou de ser Rildo, passou a ser Michê como todos o chamam.

E Leda? Bem, Leda depois de dizer aquela idiotice de exclusividade, passou a fazer parte do grupo depois de conhecer um a um dos rapazes na intimidade.

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