EXCLUSIVIDADE OU IMPOSIÇÃO? |
|
Adriana Bastos |
|
Sem saber o que pensar, Arnaldo não acreditava no que acabara de ouvir. Caberia a ele aceitar ou não Sofia de amizade com o ex. “ - Que piada de mau gosto era aquela?” pensou transtornado. Estava se sentindo traído. Por que ela deixou ele se apaixonar primeiro, passar tanto tempo de namoro, para só depois contar da existência do ex e querer, nestas alturas, impor esta amizade? E ela ainda queria compreensão? O troglodita era ele? E o pior, ainda teve que escutar que ela ainda não tinha contado ao outro que eles estavam juntos pois não tinha encontrado o momento certo para isto. Mas ele devia entender que se ela estava com ele era porque o queria, pois se dependesse do ex, eles já teriam voltado. Torturado não sabia o que seria pior: abrir mão dela ou conviver com o fantasma do outro no meio da relação. Do lado de Sofia, o questionamento era outro. Não podia aceitar aquela imposição! Será que ele não percebia que ela vivia para ele? Não conseguia ver os gestos incessantes que ela fazia para demonstrar o seu amor? Só via o que ela não fazia. E as exigências? No mínimo, descabidas. Por que tinha que ser tão possessivo? Que mal havia em manter uma amizade com alguém que já fora importante na sua vida? Ela demorou para contar ao ex sobre a existência de Arnaldo, apenas porque esperava o momento certo. No mais, todos os momentos eram para Arnaldo. Que insegurança era esta? Será que ele não entendia que se ela quisesse, ela não teria porque não ter voltado com o ex? Qual o problema dela não ter contado antes para Arnaldo? No que iria interferir na vida dos dois? Quem disse que ela tinha que contar tudo pra ele? Não podia ceder a sua possessividade. Ela tinha direito a sua individualidade. Uma coisa era certa. De modo geral, no dia a dia, a vida dos dois era boa, tranqüila. Muitas coisas tinham em comum. Alegria, irreverência, cumplicidade, vontade de compartilhar todos os momentos que podiam estar juntos. Até surgir o ex. Argumentos pra cá, argumentos pra lá, não se chegava a nenhum acordo, a nenhuma a conclusão, restando a dúvida: exclusividade ou imposição? Para Arnaldo, o amor era algo visceral, intenso. Por mais que tentasse, não conseguia entender o discurso de Sofia. Dizia tanto amá-lo, mas se tivesse que escolher, preferia perdê-lo a abrir mão da amizade. Triste, Arnaldo percebeu que a única certeza que tomava conta de sua mente era que ele não era realmente especial como gostaria de ser na vida de Sofia. Já, para Sofia, o amor era algo calmo, tranqüilo, sem imposições, dando a cada um o direito à individualidade. Triste, ela sentia que a única certeza que também tomava conta de sua mente era não conseguir mostrar a Arnaldo o quanto ele estava se igualando a uma amizade e, com isso, não perceber o quanto ela o amava. Cabisbaixos, despediram-se e foram cada qual pro seu canto, temerosos com a possibilidade do amor não resistir ao embate que transformara a relação. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor |