O Manuel deve estar bebendo com os colegas da fábrica... Hoje é sexta-feira e ao "largarem" o trabalho bebem no bar do Biró, no bar do Jessé ou nas barracas próximas. Sempre procedem assim.
- Manuel, cuidado com a bebida!
Ele então se volta, contrariado:
- Já tou bem crescidinho para saber me cuidar.
Evitando a discussão ela silencia. O Manuel sempre foi teimoso e agora, na velhice, está pior.
Defronte à televisão não se prende à novela, com um repentino pressentimento...
Ergue-se e chega ao murinho defronte a casa. Querendo enxergar a figura baixa, entroncada, a cabeça caída de lado sobre o ombro, do marido, subindo a rua. Nada.
A escadaria está deserta. As luzes dos postes banham os degraus estreitos. Espera. Preocupada.
Então o telefone toca. Retrocede à sala e do outro lado à voz avisa de que Manuel sofreu um desmaio e socorrido está na UTI, do HR.
Repõe o fone sobre a mesinha e apressada adentra no quarto, para se trocar e sair para o hospital, a fim de saber...
- Eu bem que estava pressentindo!
Sempre apressada fecha a casa e desce a rua, entregue ao que sente.
- Meu Deus proteja o Manuel.
Dobra a esquina e segue em frente, para tomar o ônibus adiante, na esquina.
A noite cai e envolve as residências, a rua pouco movimentada, enquanto a figura magra se move, impulsionada pela angústia dos mil pensamentos.
O coletivo estaciona. Como um autômato adentra.
o veículo parte.